Gleeson-White escreveu um livro fascinante sobre a história do método das partidas dobradas (Double entry. New York: W W Norton, 2012). O livro possui o subtítulo de Como os Mercadores de Veneza Criaram as Finanças Modernas e isto indica a profunda admiração do autor pelo método de Veneza.
O livro possui dez capítulos sendo a metade sobre a gênese do método e sua difusão. Os demais se referem da contabilidade no mundo moderno, incluindo aí as contas nacionais. Como a maioria do livro refere-se a Summa, a obra é uma fonte profunda para aqueles que se interessam sobre a história da contabilidade. Eis uma amostra:
ð Os primeiros livros contábeis datam em torno de 1300: livros dos mercadores Rinieri Fini e irmãos (entre 1296 a 1305) e de Giovanni Farolfi (entre 1299 a 1300). Nestas obras já se considera o lucro como um incremento do patrimônio líquido, mensurado para um período contábil claramente definido.
ð A matemática na idade média não era uma matéria específica. Na realidade era ensinada como “astrologia”. O próprio Pacioli se referiu como “astrólogo” para o Papa Leão X
ð No século XIV era comum que os comerciantes mandassem seus filhos para algumas cidades onde poderiam aprender sobre o comércio, especialmente a operar o ábaco, aprender sobre câmbio e o sistema de escrituração.
ð Pacioli tornou-se um frei talvez mais por interesse da carreira do que por crença. Durante sua vida ele deixou de cumprir uma série de regras da sua irmandade, tendo inclusive falecido como um homem rico.
ð Durante a época de Pacioli existiam treze universidades na Itália e em cada uma dela só existia emprego para um ou dois matemáticos. E Pacioli foi considerado matemático para duas delas.
ð Após a invenção da imprensa, os humanistas pretendiam que a primeira obra fossem os livros de Euclides, mas o primeiro livro foi um livro para mercadores.
ð A obra de Pacioli foi escrita em italiano, ao contrário da tradição de uso do latim, e encorajada o uso dos números hindus-arábicos e não romanos. Pacioli também criou símbolos para “mais” e “menos”, que são diferentes daqueles que usamos hoje.
ð A tiragem inicial da Summa tinha uma tiragem de dois mil exemplares, levou de nove a doze meses para ser produzido e tinha 615 páginas. Sobreviveram 99 cópias da edição de 1494 e 36 da edição de 1523. Parte do livro era uma “reprodução” do livro de Fibonacci, que estava “esquecido”.
ð A Summa media 25 centímetros por 30 e corresponde a um livro de 1500 páginas se fosse impresso hoje.
ð O livro foi a obra matemática mais lida na Itália por um século e treinou muitos estudantes em matemática e contabilidade.
ð Pacioli ajudou o pintor Leonado da Vinci na criação da Última Ceia. E o livro De Divina proportione contou com 60 figuras geométricas desenhadas por Da Vinci.
ð Pacioli escreveu um livro, denominado De ludo Scacchorum que seria o primeiro de livro xadrez. Muitos duvidavam da existência do livro, pois nenhuma cópia foi encontrada. Até 2006, quando uma cópia foi descoberta no norte da Itália.
ð Parte do Summa foi traduzido para diversas línguas, como inglês, holandês, alemão, francês e russo.
ð O sistema de Pacioli de lançamento incluía duas palavras básicas: per que significa “de” e a, que indica a conta a ser creditada. Um lançamento típico seria: “Per Banco // A Caixa”.
ð Todos os livros de contabilidade publicados no século XVI estavam diretamente baseados no trabalho de Pacioli e influenciou, inclusive, obras em língua portuguesa, em 1758. Alguns deles eram cópias, sem a devida referência, como é o caso da obra de Manzoni. O livro de Manzoni teve entre seis e sete edições em quarenta anos.
ð Uma tentativa de combater o método de PAcioli foi lançado na Inglaterra em 1796 cujo autor propunha um método infalível por partidas simples que causou sensação.
O final do livro não é tão animador. O autor tentar abranger uma série de assuntos, sendo superficial na análise moderna da contabilidade.
Vale a pena? Se você gosta de história ou quer conhecer um pouco mais sobre isto, este livro é altamente recomendado.
(Imagem: Allegory of Commerce and a Debtor's Prison)
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Que legal. Eu comprei mas ainda não tive a oportunidade de ler. Quero saber mais sobre a sensação causada em 1976 pelo "método infalível". Esses dias estava conversando com um amigo e nos admiramos por não haver mais tentativas por aí de métodos alternativos às partidas dobradas. Interessante saber dessa em 76.
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