A safra de balanços do começo do ano deixou claro por que a inflação tem tirado o sono dos empresários brasileiros. Com o avanço dos custos e despesas, transformar as vendas em resultado para os acionistas tem sido uma tarefa cada vez mais complicada. Após um recuo de 30% em 2012, o lucro das companhias abertas caiu 12,1% no primeiro trimestre frente ao mesmo período do ano passado, para R$ 14,4 bilhões. O levantamento, feito pelo Valor Data com base nos dados da consultoria Economática, leva em conta os números de 238 empresas não financeiras. [1]
A quantidade de resultados negativos também aumentou: 68 empresas fecharam o primeiro trimestre no prejuízo, número 20% superior ao registrado um ano antes. Entre as empresas que ficaram no vermelho nos dois períodos, 45% aprofundaram as perdas. Na análise dos dados, o Valor optou pela amostra que exclui Petrobras, Vale e Eletrobras (veja os números com as três empresas na tabela ao lado), já que o tamanho desproporcional das três empresas tende a distorcer o resultado geral.
A perda de rentabilidade explica o tombo na última linha do balanço. A receita avançou 11% em relação aos três primeiros meses de 2012, para R$ 234,2 bilhões, mostrando que ainda há um fôlego considerável da demanda. Os custos, no entanto, cresceram em maior proporção, 12,6%, e passaram a representar 71,9% do faturamento, contra 70,9% e 70,7% nos períodos equivalentes de 2012 e 2011, respectivamente. [2]
O impacto foi ainda maior na linha de despesas operacionais, que subiu 17,8%. A fatia do faturamento restante após esses gastos caiu 1,9 ponto percentual, para 11,9%, e o lucro operacional, antes de juros e impostos, caiu 4,1%, para R$ 27,7 bilhões. O resultado financeiro também pesou. Revertendo a tendência verificada nos últimos trimestres, os gastos com pagamento de juros de dívidas e variação cambial voltaram a subir, com alta expressiva de 29% na comparação anual, para R$ 6,7 bilhões. [3]
Vale ressaltar que, na prática, essas variações tendem a ser até mais acentuadas, por conta de uma mudança na regra de contabilização de joint ventures. Em 2013, o resultado das controladas em regime de associação passou a entrar no balanço pelo método de equivalência patrimonial e não linha a linha no balanço. Nada muda no lucro, mas, em alguns casos, há variações em receita, custos e despesas. [4]
A tendência de queda nas margens de lucro começou a aparecer com mais força na segunda metade de 2011, em meio ao cenário de crescimento econômico fraco e aumento de preços. Neste começo de ano, no entanto, o movimentou respingou até mesmo sobre as empresas de bens de consumo, que até então vinham conseguindo repassar os custos aos consumidores, valendo-se do cenário de desemprego baixo e alta da renda disponível. [5]
O volume de vendas de cerveja da Ambev caiu 8,2% no primeiro trimestre frente ao mesmo período de 2012, sinalizando que o consumidor está mais seletivo na hora das compras. O lucro da companhia ficou praticamente estável, com leve alta de 1,2% na comparação anual. Na mesma linha, o presidente da fabricante de alimentos BRF afirmou que o mercado "está com dificuldades em absorver volumes". [6]
O presidente da rede de farmácias BR Pharma, André Sá, também disse a investidores que esse foi o trimestre mais desafiador desde a abertura de capital, em junho de 2011. "Março foi o mês que mais sentimos a queda de clientes como reflexo da situação econômica", afirmou o executivo, que enfrentou um prejuízo de R$ 6,9 milhões nos três primeiros meses do ano. [7]
O desempenho das elétricas também ajudou a puxar o resultado geral para baixo. A forte redução nos preços praticados pelas geradoras que aceitaram antecipar a renovação das concessões e principalmente o salto nos gastos ocasionado pelo acionamento das usinas térmicas derrubaram os ganhos do setor, ainda que os resultados sido menos catastróficos que os antecipados pelo mercado. [8]
No geral, no entanto, a temporada de balanços frustrou as expectativas dos investidores, já bastante conservadoras. Cálculos do banco HSBC mostram que os resultados de metade das empresas que compõem o MSCI Brazil - índice utilizado por fundos de investimento passivos - ficaram abaixo do esperado. [9]
Para o ano, as estimativas de lucro médio das empresas que compõem o índice foram reduzidas em cerca de 10%, com recuos concentrados nos setores de materias básicos, saúde e bens de consumo. "Crescimento mais fraco, intervencionismo e custos e inflação em alta são novamente os culpados", afirmaram os analistas do HSBC, Francisco Machado e Ben Laidler, em relatório. [10]
INFLAÇÃO FAZ NOVOS ESTRAGOS NOS BALANÇOS DAS EMPRESAS - Natalia Viri | De São Paulo - Valor Econômico - 20/05/2013
[1] O primeiro parágrafo sugere uma relação entre inflação e o resultado das empresas brasileiras em 2012. Isto não é verdadeiro e é tendencioso.
[2] Até agora o texto não consegue justificar a frase inicial "A safra de balanços do começo do ano deixou claro por que a inflação tem tirado o sono dos empresários brasileiros."
[3] Idem
[4] Idem
[5] Idem
[6] Idem
[7] Idem
[8] Idem
[9] Idem
[10] Idem
Ou seja, o jornal prefere justificar o desempenho por uma variável externa. Mas o texto não consegue provar - e nem passa perto - que exista relação entre inflação e desempenho.
Interessante notar que essa notícia foi publicada num jornal de grande expressão, Valor Econômico, onde se normalmente existe um filtro por apresenta ótimas notícias e com lógica.
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