Páginas

27 maio 2013

História da Contabilidade: João Lessa

Durante a pesquisa para as postagens sobre a história da contabilidade encontrei a figura do guarda-livros com o nome de João Lessa. As várias citações sobre esta pessoa mostra um profissional dedicado e com um grande conhecimento sobre a contabilidade.

Não consegui encontrar nenhuma referência pessoal sobre João Lessa: quando nasceu e faleceu. Mas durante certo tempo ele morou e trabalhou em Niterói. Era bastante respeitado e gostava de polemizar sobre a contabilidade. Além disto, era um dos poucos “contadores convenientemente juramentados”, o que significa dizer que examinavam os livros e as empresas no juizado comercial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição 19, p. 528, 1862).

As Polêmicas de João Lessa
Em 1852, João Lessa publica uma pequena nota no Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal (Edição 37, p. 3) provocando um Sr. J. B. Clement, que ensinava escrituração naquela época. Lessa pergunta: “o que Vm. entende por partidas dobradas pelo methodo simplificado?” (itálico no original, com grafia da época). Dias depois (Edição 118, p. 3), Lessa volta a carga com um texto mais longo, onde novamente questiona o método simplificado de Clement. Como o tesouro adotava as partidas dobradas, inclusive em concurso, Lessa lembra que aqueles que aprenderam escriturar com Clement provavelmente não aprenderam o método de Veneza, mas as mistas.

Esta discussão sobre as partidas dobradas era interessante naquele momento, já que a contabilidade pública tinha obrigado a sua adoção, mas não o recente Código Comercial, que deixava a critério de cada comerciante a escolha do método (vide Tribunal do Commercio da Corte, Deliberação de 27 de janeiro de 185 (?), publicado no Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal, Edição 320, p. 1).

Em 1856, Lessa discute publicamente com Miguel José Rodrigues Vieira, autor de “Guarda-livros Brasileiro ou A Arte da Escripturação Mercantil Apropriada ao Commercio do Brasil”. Lessa afirma que Vieira não sabe escrituração mercantil por partidas dobradas e que não tem prática de comércio. Vieira ensina o “methodo de escripturação adaptado ao commercio do Rio de Janeiro”. No seu livro, Vieira escreve que produtos em consignação devem estar escriturados no diário, o que Lessa discorda (Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal, 1856, edição 30, p. 2).

Em 1863, João Lessa envolve em outra discussão, agora com Ricardo Graça, do Círculo Commercial, sobre a questão de falência (vide A Actualidade, edição 442, p. 3, 1863).

Lessa e A Profissão
É importante notar que no período em que João Lessa atuou a profissão contábil estava começando a ganhar força nos países europeus.

Em 1860 é criado no Rio de Janeiro o Club dos Guarda-Livros, que funcionava na Rua São Pedro 79. A presidência era exercida pelo Dr. Campos e o secretário desta organização era João Lessa (Diário do Rio de Janeiro, edição 26, p. 3, 1860). Em maio daquele ano foi realizado o convite para os interessados em participar do Club (Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal, edição 144, p. 2, 1860).
Entre os objetivos do Club estavam: estudar as questões comerciais e sua jurisprudência; analisar o uso e os costumes de outras localidades, comparando-as com o Rio de Janeiro; uniformizar as escriturações; proteger os sócios; fazer cursos de contabilidade, escrituração, direito mercantil e economia política; e criar uma revista periódica para publicar trabalhos dos associados, julgamentos comerciais e estatísticas comerciais (A Actualidade, edição 93, p. 4, 1860). Como é possível perceber, o Club representa uma associação de profissionais com interesses na padronização da profissão e na divulgação de conhecimento.

Infelizmente o Club não teve uma duração longa. Em 1862 a sociedade vota uma reforma nos estatutos, “extinguindo o actual Club, que passa a denominar-se: Circulo Commercial” (Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal, 1862, edição 295, p. 1, com grafia da época, itálico no original). A nova sociedade tem por finalidade “estudar as questões relativas ao commercio, e fazer quanto lhe fôr possivel para hamonisar as transações mercantis de todas as praças do Brasil, mandando publicar os seus trabalhos em uma Revista Commercial e Industrial” (idem, grafia da época). Esta nova associação é mais ampla que a anterior, restrita aos guarda-livros. No Circulo Commercial a participação seria dos “negociantes e homens de letras”. E Lessa não era o secretario desta entidade.

P.S.

Com respeito ao texto acima o Diccionário Bibliographico Brazileiro, de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, publicado em 1895, pela Imprensa Nacional, informa que seu nome completo é João Francisco de Araújo Lessa, filho de Bernardo Francisco Lossa, nascido em 13 de maio de 1829 e falecido em 1 de dezembro de 1872. Fez o curso de comércio e tornou-se guarda-livros e professor de matemática, francês, espanhol e contabilidade. Sua principal  obra foi o Manual theorico e pratico do guarda-livros : tratado completo de escripturação mercantil por partidas simples, mixtas e dobradas, publicado no Rio de Janeiro, 185S, com 208 páginas. Segunda edição de 1869. Logo após sua morte, outra edição de 1881. Além de outras obras, não relacionadas com a contabilidade. Consta que deixou inéditos: Historia do commercio do Rio de Janeiro; Diccionario do commercio pelo systema de Mac Culloch; Commentaríos ao código do commercio do Brazil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário