Já vimos em diversas postagens anteriores (1) que o método das partidas dobradas era razoavelmente bem difundido no Brasil no final do século XIX. Uma curiosidade importante é que ao contrário dos dias de hoje, o método das partidas dobradas era ensinado junto com as primeiras noções de alfabetização. Um anúncio publicado no jornal A República, no ano de 1889, da Eschola Realista mostra isto:
A escola, localizada na Rua do Riachuelo, na cidade de Curitiba, Paraná, oferecia aulas para meninos de 5 a 14 anos, sendo que o primeiro grau consistia em noções de contabilidade. É bem verdade que isto parece que era uma exceção na época, mas o fato de ensinar contabilidade no ensino regular era algo normal. Um Regulamento da Instrução Pública do Estado do Paraná indicava que o ensino naquele estado teria matérias complementares que incluía “as regras de contabilidade usual e a escripturação mercantil” (2). Também neste mesmo ano já existiam concursos públicos com provas de conhecimento, onde se cobrava “escripturação mercantil por partidas dobradas” (3) para ser funcionário do tesouro do estado do Paraná.
Além do ensino tradicional, existiam professores particulares que ensinavam a contabilidade, como pode ser comprovado por este anúncio publicado em 1896 (4):
Um ano depois, um classificado oferecia serviços de contabilidade, mostrando que já naquele momento existia a terceirização de serviços contábeis (5):
Observe que os serviços eram oferecidos ao público em geral, com ênfase no comércio. E que o profissional fazia a escrituração pelas partidas dobradas ou por partidas simples. No mesmo ano uma piadinha, um tanto quanto sem graça, era publicada no jornal A República (6):
- O senhor quebrou duas vezes
- É exacto, mas peço licença para observar-lhe que todo o bom negociante faz as suas operações por partidas dobradas.
Apesar destas constatações é importante destacar que a adoção das partidas dobradas já era fato corriqueiro no Brasil do final do século XIX. Pelo contrário, em alguns setores as partidas dobradas só foram adotadas no setor público no século XX. As primeiras experiências ocorreram em 1906 no estado do Paraná, através do secretário de Finanças, Coronel Chichorro Junior (7). Logo após, o estado de São Paulo também adotaria as partidas dobradas na área pública. Naquele estado destaca-se os nomes de Carlos de Carvalho (8), Levy Magano e Francisco D´Aurea (9).
Mas somente em 1914 é que o governo central, através de Rivadavia Correa (8), interessa por adotar as partidas dobradas na área pública. Naquela época, os estados de São Paulo e provavelmente Minas, Rio de Janeiro e Pernambuco (10), adotavam o método. Paraná, o pioneiro, tinha abandonado o método, já que os resultados não foram “satisfatórios” (11).
Apesar do atraso na adoção das partidas dobradas, a expansão do método na área pública parece que foi rápida na década de 20. Em 1929 já se tem notícia que a prefeitura municipal da cidade de Palmeira, no Paraná, já o adotava, conforme a seguinte citação:
A escripta da Prefeitura já se encontra sendo feita pelo systema de partidas dobradas e o seu methodo esta organisado muito regularmente (12).
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(1) Vide, por exemplo, A educação nas Províncias na Segunda Metade do século XIX
(2) A Republica, edição 26, 1890. Trata-se do artigo 3º., paragrafo 3º.
(3) A República, edição 162, 1890, p. 3.
(4) A República, edição 28, 1896, p. 3.
(5) A República, edição 130, 1897, p. 3.
(6) A República, edição 195, 1898, p. 1.
(7) A República, edição 240, 1907, p. 1. Vide também o mesmo jornal, edição 290, 1906, p. 1. Ou, edição 156, 1906, p. 1. São textos longos, onde o articulista informa que o estado do Paraná estaria usando o método adotado no comércio.
(8) A República, edição 290, 1914, p. 1.
(9) A República, edição 132, 1914, p. 1.
(10) A República, edição 27, 1915, p. 2.
(11) A República, edição 14, 1915, p. 1.
(12) A República, edição 107, 1929, p. 3.
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