Inúmeras pesquisas comprovaram que o comportamento das pessoas é afetado por diversas variáveis. Uma pesquisa recente mostrou que a língua também tem seu papel em decisões como economizar, fazer exercícios, fumar e usar camisinha. No início do mês postamos um vídeo do TED talks sobre Keith Chen. Falemos mais sobre o assunto...
Keith Chen, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, investigou como as diferentes línguas fazem distinção entre eventos presentes e futuros. Enquanto no inglês, ao se mencionar uma chuva amanhã, você diz “It will rain tomorrow”, no alemão a mesma frase é “morgen regnet” (algo como 'chuva amanhã'). Há diferença entre as duas formas. O inglês exige, para compor a frase, o uso do verbo “will”, que indica que a ação irá ocorrer no futuro. Assim, a distinção entre o evento no futuro é mais forte na língua inglesa que na alemã.
Chen se questionou se esta distinção, que ocorre entre várias línguas, pode influenciar as chamadas “escolhas intertemporais”. Estas escolhas estão presentes na vida diária de cada um de nós: a escolha, por exemplo, de assistir televisão ao invés de fazer exercício físico numa manhã de terça-feira. Quando eu decido fazer uma atividade mais saudável, a opção terá diversos reflexos no futuro.
O estudo partiu da suposição que quando a língua faz uma grande distinção entre as ações do presente e do futuro, poderá afetar as escolhas intertemporais. Nas línguas nas quais a distinção entre presente e futuro não é forte, as pessoas seriam mais econômicas? E teriam mais hábitos saudáveis?
Chen encontrou que esta distinção afeta sim muitas decisões. Ele utilizou uma base de dados ampla sobre o comportamento das pessoas em diversos países e relacionou à presença (ou ausência) de uma referência ao tempo futuro (FTR, na abreviatura do autor). A comparação levou em consideração as características idênticas de renda, educação, família, entre outras. Pessoas com fraca FTR, como é o caso dos alemães, são mais econômicos (31% a mais), guardam mais dinheiro para aposentadoria (39% a mais), provavelmente fumam menos (24%), fazem mais atividade física (29% a mais) e são menos propensos a obesidade (13% a menos).
Mesmo em países que usam mais de uma língua, como é o caso da Suíça, a diferença persiste. E os países que possuem fraca FTR economizam, em média, 6% a mais do PIB por ano. Na conclusão da pesquisa, Chen diz acreditar que os resultados encontrados indicam que a língua pode ser a causa, não o reflexo, de algumas das diferenças.
Ao ler o texto fiquei pensando como é importante que pesquisas ousadas sejam realizadas na academia. Para um leigo, seria difícil imaginar a relação entre decisões econômicas e efeito da língua. Mas a criatividade de um pesquisador permitiu que se pudessem entender um pouco melhor escolhas intertemporais.
CHEN, M. Keith. The Effect of Language on Economic Behavior: evidence from savings rates, health behaviors, and retirement assets. American Economic Review, vol. 103, n. 2, 2013 (a ser publicado brevemente). Aqui uma versão preliminar do texto.
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