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18 março 2013

4 erros do investidor brasileiro


Os quatro erros do investidor brasileiro

Autor(es): André Rocha
Valor Econômico - 05/03/2013
 

A queda dos juros criou um cenário mais desafiador para as aplicações financeiras no país. O investidor brasileiro, antes acostumado a investir em aplicações conservadoras com alta rentabilidade, está desconfortável. A fim de superar essa insegurança, é necessário absorver novos conceitos para se evitar erros.
Reportagem do Valor "Nem renda fixa nem ações ficam no azul em fevereiro", publicada em 28/02/13, mostra como a tarefa de investir será mais complexa daqui para frente. Apenas a poupança antiga e o CDB caminhavam para superar a inflação projetada de fevereiro.
Não há razão para desespero. Os investidores devem esquecer antigos paradigmas e incorporar novas estratégias. O aplicador não pode continuar utilizando a mesma tática do período em que existiam aplicações conservadoras com juros reais (descontada a inflação) de até dois dígitos. Quais são os novos conceitos que devem ser absorvidos a fim de evitar erros?
1) Uma má aplicação financeira é melhor do que nenhum investimento: é comum ouvirmos que não vale a pena investir se a aplicação apresenta rentabilidade inferior à inflação. Não é bem assim. Imagine que, há 20 anos, Paulo e Carlos pensaram em iniciar a formação de uma poupança com vistas à aposentadoria. Suponha um caso extremo: todas as aplicações financeiras apresentavam expectativa de perder para a inflação. Paulo economizou mesmo assim e hoje, já aposentado, apresenta um montante para suportar sua ociosidade que representa 80% do poder de compra do valor originalmente economizado. Por outro lado, Carlos preferiu consumir ao invés de poupar, pois, segundo ele, não valia a pena ter seu dinheiro consumido pela inflação. Responda rápido: hoje quem estará mais tranquilo para curtir a aposentadoria: Paulo ou Carlos? Por isso, nunca desista de poupar.
2) Volatilidade não é sinônimo de risco: A reportagem citada acima mostra que das 21 categorias de fundos (curto prazo, referenciado DI, ações Ibovespa ativo, etc.), 11 apresentavam rentabilidade negativa em fevereiro. Bem vindo à volatilidade. Mas volatilidade não é sinônimo de risco. Risco é a possibilidade material de o investidor ter perda do principal aplicado. Vamos a um exemplo prático: os títulos do Tesouro Direto chamados de NTN-B. Atualmente, papéis com vencimento em 2024 e 2035 garantem juros ao redor de 4% acima da inflação medida pelo IPCA. Esses títulos apresentam volatilidade? Sim, pois o preço do papel apresenta variações ao longo do tempo a fim de se ajustar aos juros correntes da economia. Assim, caso se espere aumento da taxa Selic, o preço do título deve cair, como ocorreu em fevereiro, gerando perdas. Contudo se o investidor mantiver esses ativos até o vencimento, ele não terá perda de principal e, mais do que isso, obterá rentabilidade superior ao IPCA do período. Logo, não se pode dizer que esses papéis apresentam risco (a não ser que você acredite em um calote do governo), mas sim volatilidade.
3) Não confundir poupança com reservas para gastos emergenciais: é importante que todo trabalhador tenha uma reserva representando entre 6 a 12 vezes seus gastos mensais a fim de suportar eventos inesperados como demissão ou infortúnios com a saúde. Essa parcela não pode ser alocada em aplicações financeiras com volatilidade. Deve ser mantida em aplicações tradicionais como poupança ou fundos DI. Essa estratégia vale também para quem está economizando para gastos nos próximos 12 meses, como por exemplo viagens com a família. Somente após a constituição dessas reservas, o investidor deve diversificar seus investimentos, aplicando em categorias com maior volatilidade e risco, mas que, em contrapartida, oferecem possibilidade de ganho maior.
4) Visão de curto prazo prejudica a rentabilidade das aplicações: no post "Aplicações financeiras: nem sempre os olhos do dono engordam o boi", de 26/02/13, mostrei que o hábito de observar frequentemente a rentabilidade das aplicações tem efeito nefasto sobre a rentabilidade. Por quê? Com medo da volatilidade, o investidor tende a preferir investimentos mais conservadores e de menor retorno. Essa conclusão foi obtida com testes feitos por alguns economistas, entre eles o Prêmio Nobel, Daniel Kahneman. Por isso, tome muito cuidado com sua decisão de investimento tomada com base unicamente na rentabilidade apresentada pelas aplicações financeiras em fevereiro.
Tenho um exemplo de como uma visão de longo prazo pode ser benéfica aos investimentos. Em 1997, trabalhava em uma gestora que começava a montar posição em ações ilíquidas de companhias do setor de telecomunicações. O objetivo era obter ganhos com a provável reestruturação do setor. Em 1998, a consolidação ainda não havia acontecido e as ações apresentavam mau desempenho. A persistência se mostrou vitoriosa. A reestruturação ocorreu entre 1999 e 2000 e o fundo de ações foi o segundo mais rentável da indústria no período compreendido entre 1998 e 2001.
Por fim, postergar o resgate traz vantagens fiscais. A alíquota de Imposto de Renda sobre renda fixa é declinante ao longo do tempo, começando com 22,5% para aplicações mantidas nos primeiros 6 meses e caindo para 15% para investimentos retidos por mais de 24 meses.
André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa.

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