É razoável imaginar que nos idos de 1860 a contabilidade no
Brasil estivesse muito atrasada em relação aos países europeus. Entretanto,
quando analisamos de forma mais detalhada este período encontramos algumas
surpresas agradáveis. E também revela que alguns males atuais tem sua origem
nos séculos passados.
Recentemente tivemos o governo manipulando as contas
públicas. Em 1862 o jornal A Actualidade trazia o seguinte texto:
“Ora, é a
imprensa liberal, que, pelo órgão do nobre deputado, Sr. Francisco Octaviano,
ensino ao thesouro a sommar algarismos, e convence-o de inqualificáveis espertezas
na escripturação dos creditos supplementares. Ora, é o próprio ex-ministro da
fazenda, o Sr. Paranhos, que da tribuna reclama contra uma picardia da contabilidade
do thesouro que, para fazer serviço ás sombrias prophecias do assessor do Sr.
Viana, insiste em figurar um déficit aonde havia um saldo.”
Muito próximo ao
que temos hoje: uso de creditos suplementares, manipulação da contabilidade
pública, “espertezas” dos políticos.
Uma descoberta interessante nas páginas do A Actualidade é a
existência de uma organização de contadores – na época denominada de
guarda-livros. Em 1863 o jornal publica as normas da sociedade “Club dos
Guarda-livros”, que passou a denominar-se de “Circulo Commercial”. No artigo 2º.
1. Estudar as importantes questões comerciaes e
a sua jurisprudencia peculiar
2. Analysar os usos e costumes das diversas
praças mercantis, e comparal-os entre si, fazendo por adoptar o que hover de
melhor nas praças estrangeiras, quando isso não fôr contrario á nossa
legislação
3. Procurar uniformisar o systema das
transacções e dos contractos mercantis de todas as praças do Brasil, bem como
as escripturações e mais actos relativos á sua contabilidade.
Isto indica que em 1863 tínhamos um embrião de uma
associação profissional no Brasil que estava interessada em padronização da
escrituração. E isto incluía o estudo do que era feito em outros países para
sua adoção no Brasil. Ou seja, a convergência no Brasil começou bem antes do
CPC. Esta entidade, para atingir suas finalidades, se propunha ensinar ciências
comerciais, como aparece no artigo terceiro.
Um fato interessante é que o profissional cuidava da escrituração
e contabilidade (eram termos de uso distinto para época) e o serviço poderia
ser feito pelo guarda livros ou pela figura do “caixeiro”:
Naquele ano, algumas empresas já publicavam suas
demonstrações contábeis. Eis o caso de uma ferrovia, onde se apresenta as
receitas, as despesas e o lucro (denominados de rendimento, despeza e saldo
creditado ao thesouro).
Esta mesma empresa publicava um relatório da diretoria:
Para finalizar, eis o que diz um artigo publicado em 1863
sobre a atuação do guarda livros em casos de falência. O texto é de João Lessa
e comentava a condenação de um guarda-livros no caso da falência de uma empresa
da época.
Mais adiante, o autor afirma que a responsabilidade da
contabilidade é do dono da empresa, não do funcionário:
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