À medida que aprofunda e diversifica suas coletas de dados, o IBGE faz constatações surpreendentes. Com base no último Censo Demográfico, por exemplo, o órgão apurou que, em 2010, quase 11% dos estudantes universitários do País já eram formados ou estavam fazendo um segundo curso de graduação. A maior parte desse grupo de estudantes está no Sudeste. Por ser a região mais desenvolvida do Brasil, é nela que é oferecida a maior quantidade de empregos na economia formal.
O levantamento do IBGE também revela que 30,1% dos universitários que fazem uma segunda graduação estão na faixa etária de 40 anos - ou seja, são bem mais velhos do que a média de estudantes do ensino superior e a maioria já tem uma colocação no mercado de trabalho. O levantamento do IBGE mostra ainda que 13,2% dos estudantes que estão na segunda graduação fizeram - ou fazem - a primeira graduação numa instituição pública federal ou estadual. Portanto, esse é um contingente de estudantes qualificados, uma vez que as universidades públicas estão entre as melhores do País.
O IBGE não indagou os motivos que levaram 11% dos universitários brasileiros a fazer um segundo curso de graduação. Os especialistas em pedagogia e em recursos humanos aventam três hipóteses para explicar essa decisão. A primeira seria o descontentamento com sua carreira profissional. Insatisfeitos com os baixos salários ou com a área do conhecimento de sua graduação, eles voltaram à faculdade buscando se reposicionar no mercado de trabalho. "A pessoa escolheu uma carreira e não se identificou com ela", diz Jacqueline Resch, especialista em recursos humanos. "Isso mostra a inadequação do sistema universitário brasileiro, em que o aluno tem de fazer escolhas prematuras sobre profissões eventualmente dissociadas do mercado de trabalho", afirma Antonio Freitas, professor da Fundação Getúlio Vargas, criticando o que chama de "profissionalização precoce".
A segunda hipótese explica a decisão como decorrente do avanço da tecnologia e seu impacto na divisão do trabalho intelectual, rompendo a tradicional classificação dos currículos do ensino superior em três áreas básicas - ciências humanas, exatas e biomédicas. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, essas áreas se entrecruzaram. Com isso, a economia formal passou a exigir profissionais com formação interdisciplinar. "Muitos estudantes se conscientizaram da necessidade de complementar sua formação com disciplinas que não dominam. As empresas exigem cada vez mais dos funcionários e as pessoas cada vez mais trabalham em equipes interdisciplinares", afirma Jacqueline Resch.
A terceira hipótese está associada à velocidade das mudanças científicas e tecnológicas - fenômeno que os economistas chamam de "processo de destruição criadora". Na dinâmica desse processo, o que hoje é novidade científica envelhece em curto período de tempo. Desse modo, o conhecimento tende a evoluir em ritmo cada vez mais rápido - e quem se formou num curso superior há cinco ou dez anos é obrigado a voltar a estudar, para se reciclar academicamente. Caso contrário, corre o risco de ser expulso do mercado de trabalho, por não dominar as novas técnicas de gestão e produção. Em outras palavras, voltar a estudar, como descobriram os estudantes que estão fazendo uma segunda graduação, é questão de sobrevivência profissional.
O aumento da escolaridade de 11% da população de universitários é uma informação importante, que mostra a necessidade de reestruturar o ensino superior do País. A divisão dos cursos em três áreas básicas já está superada e os currículos universitários orientam-se por matrizes profissionais desconectadas com a realidade social e econômica do País. E como o mercado de trabalho exige dos profissionais uma formação cada vez mais abrangente, um diploma superior já não é mais uma garantia de ascensão profissional.
A Universidade precisa ser repensada, para dar às novas gerações uma formação mais sólida e um conhecimento técnico mais próximo da realidade do mercado de trabalho.
Fonte: aqui
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