Quando Nash apresentou seu texto revolucionário de teoria
dos jogos, o economista estadunidense usou duas citações. Nos dias de hoje isto
seria impensável: um texto com menos de cinco referências dificilmente seria
aceito num congresso ou periódico. Assim, temos artigos que exageram nas
citações, pecando às vezes pelo excesso. A lista a seguir começou com sete
erros. Depois que escrevi os sete
pecados num guardanapo e estava preparando para fazer este texto, eu percebi
que estava incompleta e acrescentei mais três problemas.
Os problemas apresentados a seguir são baseados na minha
experiência como leitor de artigos, avaliador e professor.
1 – Maiúscula e minúscula – infelizmente temos que respeitar
as normas de citações. E estas normas muitas vezes não fazem muito sentido. A
norma de citação brasileira diz que um autor citado ao longo de uma frase deve
ser escrito em letras minúsculas; se não citamos o autor na frase, mas o mesmo
foi fonte do pensamento, o nome deve estar entre parêntese, em letras maiúsculas.
Veja os exemplos:
Segundo Paes (2011), a
norma da ABNT é uma grande bobagem.
A norma da ABNT é uma
grande bobagem (PAES, 2011)
As duas frases são similares e mostram quando devemos usar
maiúsculas e minúsculas. Realmente isto é uma grande bobagem da ABNT, a
responsável pelas normas de citação no Brasil, mas os avaliadores consideram
isto na sua análise.
2 – Esquecer o nome do co-autor (também conhecido como erro Van Breda) – Em obra de dois ou mais
autores supõe-se que os mesmo ajudaram a escrever o texto. Assim é necessário
citar todos os autores. Já analisei artigo onde o segundo autor, certo Silva, num
livro de capital de giro, não foi citado, apesar de ter sido responsável por
muitas linhas do livro. Obviamente fiquei chateado com o grande esquecimento. Neste ponto, o grande campeão na área de
contabilidade é Van Breda. Assim, devemos citar
Para Hendriksen e Van
Breda (1999) nunca devemos esquecer o nome do co-autor
3 – Não saber usar apud
e et alii – Estas duas expressões de
origem latinas são fontes de grande confusão. O apud é usado quando pegamos uma citação de outro autor, não tendo
consultado a fonte original. Isto pode ocorrer quando não temos acesso à obra.
A ordem é citar o autor original primeiro, ligado por um apud – em itálico – ao autor onde você encontrou o texto. Desta
forma:
Pacioli apud Niyama e
Silva (2011) afirmou que o dono deve contabilizar todos os eventos
Já o et alii indica a existência de vários autores. A
maior confusão é imaginar que seria et
alli com dois “eles”. Para evitar o risco, cite et al. Eis um exemplo:
Segundo Sales et alii
(2012) a contabilidade é divertida
4 – Página – Em algumas ocasiões gostamos de citar um autor
de maneira literal. Neste caso devemos usar as aspas e indicar a página onde o
texto foi encontrado. Quando a citação não é literal, não é necessária a
página. Eis dois exemplos;
Segundo Correia (2012,
p. 1), “o universo contábil é diversificado”.
Para Correia (2012) o
mundo contábil é diversificado.
Ambas as frases dizem aproximadamente a mesma coisa. Na
primeira, uma citação exatamente como estava no texto original, merece aspas e
a página.
5 – Citação e referências – este é um erro muito comum. Todo
trabalho citado ao longo do texto deve constar das referências e aquele que
estiver nas referências deve ter sido citado no texto. De outra forma, um autor
citado ao longo do seu texto não deve estar ausente das referências (afinal,
queremos saber detalhes da obra) e um item constante da referência deve ter
sido usado no trabalho. Este tipo de erro é muito comum nos trabalhos que
passaram por uma intensa revisão.
6 – Citar um nome errado – se você tiver o azar do seu
trabalho ser avaliado pela vítima do seu erro, ou de alguém próximo a ele, este
erro será muito grave. Além disto, se for um nome amplamente conhecido na área,
o erro também poderá ter consequências. Revise o nome que consta do livro ou do
artigo para ter certeza que não cometeu este engano. Na nossa área é muito
comum encontrar frases como:
Lidicibus (1997)
afirmou que o pesquisador merece respeito.
7 – Citar uma obra pouco relevante sobre o assunto – se você
estiver fazendo um trabalho sobre a história dos negócios durante a segunda
guerra não faz sentido citar uma obra genérica como História do Brasil Resumida. O assunto é muito específico e merece
uma citação como O Brasil e a II Guerra,
por exemplo. Uma obra genérica pode ser relevante para você tomar conhecimento
do assunto, mas você não precisa dizer isto para seu leitor. No passado este
tipo de erro deveria ser conhecido como Manual da Fipecafi: esta obra – excelente,
por sinal – era muito citada nas dissertações e teses da USP. Mas provavelmente
é muito genérica para merecer tanta citação. Outra forma de cometer este erro é
usar um pequeno trecho de um artigo cujo foco não é aquele. Por exemplo:
Para Moraes (2008), a
contabilidade é a ciência da informação.
E o trabalho de Moraes é algo como “Fluxo de Caixa
Descontado”. Ora, Moraes não fez uma grande reflexão sobre o que é a
contabilidade; simplesmente fez esta afirmação “de passagem”. Quando citamos
estamos usando o “argumento de autoridade”. Este tipo de erro é uma falha neste
argumento: o que citamos não é a melhor autoridade sobre o assunto.
8 – Deixar de citar um trabalho seminal – o trabalho seminal
é aquele que mudou a área que você está escrevendo. Se você estiver fazendo um
texto de finanças comportamentais, provavelmente você deverá citar Kahneman e
Tversky e os trabalhos que mudaram o que pensamos sobre o assunto da década de
70. Mas atenção: não seja muito genérico; não é necessário citar a obra de
Freud, por exemplo.
9 – Colocar palavras na boca do autor que ele não disse – Ao
ler um trabalho e traduzir as principais ideias, muitas vezes distorcemos a
visão do texto. A citação que usei no item 2 é um exemplo disto: obviamente
eles não disseram isto no livro.
10 – Não citar – depois de tantos problemas, talvez a melhor
solução fosse não citar. Mas este é o mais grave dos erros. Isto inclui não
reconhecer que não lemos as obras originais – erro do universitário que não lê
as obras obrigatórias para o vestibular, mas sim os resumos – ou que aquela
ideia não é nossa. Considero este um erro gravíssimo, sujeito a “fogueira da inquisição”
na acadêmica. É roubo, desonestidade. Não perdoo este tipo de erro.
Quais os erros mais comuns? Acredito que o uso errado de
maiúsculas e minúsculas, a falta de sincronia entre os autores citados ao longo
do texto e aqueles que constam das referências e a citação de uma obra com
pouca aderência sobre o assunto.
Perfeito!!!
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