Com R$ 28,3 milhões dá para comprar 566.821 cartões telefônicos de R$ 50. Se você tiver sorte de pegar uma promoção de R$ 0,05 o minuto, poderá falar por 9,5 milhões de horas. Ou 393 mil dias, que correspondem a 1.076 anos. Distribua os cartões a duas pessoas e eles poderiam falar ao telefone desde o descobrimento do Brasil até hoje.
O Banco Cruzeiro do Sul registrou a compra dessa montanha de cartões, usados para recarga de celular pré-pago, mas ninguém falou um minuto, segundo investigação da Polícia Federal.
A compra foi simulada para desviar R$ 28,3 milhões do caixa do banco, de acordo com a denúncia da procuradora Karen Louise Khan.
O truque para que os cartões virassem dinheiro desviado era simples, ainda de acordo com a polícia: os donos do Cruzeiro do Sul, a família Indio da Costa, também tinha o controle da empresa que vendia os cartões ao banco, a Vox Distribuidora de Cartões Telefônicos.
Dito de um jeito mais simples: o dinheiro saía do banco dos Indio da Costa e ia para uma empresa controlada pela mesma família. Como o banco estava quebrado, o dinheiro desviado saía da conta dos clientes.
O advogado de Luis Felippe e Luis Octavio, Roberto Podval, diz que vai provar a inocência de seus clientes na Justiça, mas não quis comentar as acusações sobre os cartões telefônicos.
(...) Em setembro de 2010, o banco e a Vox firmaram um contrato pelo qual o Cruzeiro do Sul decidiu comprar 25.500 cartões pré-pagos.
Depoimento à Polícia Federal de um funcionário da tesouraria, Alessandro Gonçalves de Oliveira, revelou que só 2.100 cartões foram entregues. "(...) a suposta aquisição de cartões telefônicos pré-pagos, na prática, jamais existiu", escreveu a procuradora na denúncia apresentada em dezembro.
Mesmo sem a entrega dos cartões, o banco usava esse contrato com a Vox para fazer retiradas semanais de R$ 250 mil da tesouraria do banco em dinheiro vivo.
Os saques não eram registrados na contabilidade oficial, mas no caixa-dois do banco, segundo a denúncia.
O dinheiro era entregue para Luis Felippe Indio da Costa e Luis Octavio Indio da Costa, os donos do banco, e diretores, segundo a procuradora. Os pagamentos à Vox também eram do tipo vai-e-volta, segundo a testemunha José Alfredo Lattaro: "Os recursos enviados à Vox voltavam em espécie para o banco em malotes". Segundo ele, os valores eram guardados no cofre, sem contabilidade.
Cartões telefônicos encobriram fraude no Cruzeiro do Sul, diz PF - MARIO CESAR CARVALHO - Folha de S Paulo - 20 de jan 2013
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