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16 dezembro 2012

Demanda por PhDs


Em comum, Gustavo Manso, Newton Campos e Sandra Jovchelovitch têm o fato de lecionar em renomadas escolas de negócios fora do Brasil. Além disso, os três, nascidos no país, também são PhDs e fizeram parte dos estudos no exterior. Essas duas características, aliás, parecem ser essenciais para quem quer dar aulas em instituições de primeira linha nos Estados Unidos e na Europa. "É raro alguém que não tenha esse perfil lecionar nas melhores escolas", diz Gustavo Manso, hoje professor associado de finanças na Haas School of Business, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Os três brasileiros preenchem requisitos que nem sempre as escolas de negócios encontram facilmente para completar seus quadros. Em uma recente entrevista ao Valor, Arnoud de Meyer, presidente da Singapore Management University, afirmou que não há professores suficientes para atender a demanda por ensino de qualidade para os jovens que estão entrando no mercado. "Não temos gente com PhD que possa, de fato, elevar o nível de ensino", disse ele.

A AACSB, associação que reúne aproximadamente 1.200 escolas de negócios de 70 países, tem números que corroboram a percepção de Meyer. Dados coletados entre 2011 e 2012 mostram que os membros da AACSB reportaram 1.350 vagas para professores com doutorado que não foram preenchidas no período. Essas mesmas escolas informaram que 2.704 acadêmicos doutores devem se aposentar nos próximos cinco anos. "Com a desaceleração das contratações e o crescente número de aposentadorias, a demanda por professores com PhD está aumentando", disse um porta-voz da AACSB. Entre as áreas que mais sofrem estão contabilidade, finanças, economia e gestão.

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Poder passar boa parte do ano debruçada sobre pesquisas é uma das características que agradam a professora da London School of Economics (LSE) Sandra Jovchelovitch em sua atividade profissional. Na escola britânica, ela passa entre 60 e 70 horas por ano lecionando. Ela ressalta que enquanto no Brasil o foco é a sala de aula, nas escolas de elite do Reino Unido e dos Estados Unidos o ensino é dirigido pela pesquisa. "A condição de trabalho para o acadêmico que tem ambição de desenvolver conhecimento é excelente nesses países", diz. Isso não quer dizer que os professores sejam menos cobrados ou sofram menos pressão. Eles são avaliados constantemente e o avanço na carreira é centrado na produção de pesquisa.

Com quatro livros publicados e diversos papers e artigos, Sandra já está no Reino Unidos há 21 anos. Depois de cursar psicologia e concluir o mestrado na PUC do Rio Grande do Sul, ela deu aulas na instituição antes de fazer um doutorado na LSE. "Escolhi o Reino Unido porque eles tinham os maiores centros de produção de conhecimento na minha área", diz. A intenção dela, no entanto, era voltar para o Brasil após o curso. "Mas acabei me casando com um suíço em Londres e fiquei", conta.

Com o título de PhD, Sandra participou de processos seletivos para lecionar no Reino Unido. Foi chamada por Cambridge também, mas escolheu a LSE. Ela acredita que o fato de ter feito doutorado na instituição britânica ajudou a conseguir a vaga. "Quando as escolas de elite buscam pesquisadores, elas avaliam as instituições de formação desses profissionais", diz. Hoje com uma função de acadêmica sênior, Sandra é diretora do mestrado em psicologia social e cultural e dá aulas nesse mesmo programa.

Newton Campos, professor na IE Business School, da Espanha, ainda não se considera um acadêmico - como Manso e Sandra -- embora dê aulas no MBA de uma das melhores escolas de negócios do mundo. Isso porque ele ainda não consegue se dedicar à pesquisa como gostaria. "É o próximo passo na minha carreira", diz. Campos deixou o Brasil em 2000 para fazer um MBA no IE, logo após ter concluído a graduação em contabilidade na PUC de São Paulo. Parte do programa executivo foi cursada na Índia, no Indian Institute of Management.

Foi durante o curso que ele se interessou mais pelo empreendedorismo em economias emergentes, disciplina que leciona hoje no IE. Antes de dar início à carreira de professor, no entanto, Campos trabalhou na Telefónica em Madri e, pouco depois, foi convidado pelo IE para divulgar a escola no Brasil. Assim, foi country manager da instituição no país entre 2003 e 2010. Alguns anos depois de difundir o nome e os programas da escola por aqui, achou que o trabalho poderia ser feito em meio-período. Proposta aceita pelos espanhóis, ele começou um doutorado na Fundação Getulio Vargas e, após obter o título de PhD, começou a dar aulas no IE. Ali, também passou a ser diretor de admissões dos programas de MBA "blended", com aulas presenciais e on-line.

Segundo ele, uma das maiores qualidades das escolas de negócios mais bem posicionadas nos principais rankings de ensino executivo é a diversidade em sala de aula. "Tenho 54 alunos de 44 países diferentes. Isso eleva o nível dos debates e traz uma dinâmica muito diferente", afirma. Campos acredita que seu vínculo com o IE o ajudou a conseguir uma vaga como professor. Martin Boehn, vice-reitor dos programas de MBA da escola, afirma, no entanto, que muitos não estudaram na instituição. "Temos o objetivo de recrutar os melhores ao redor do mundo e nem todos se formaram na IE", diz. Em sua opinião, o fundamental é que o profissional combine expertise em pesquisa e prática docente. "Isso assegura que nossos alunos não aprendam apenas sobre as novas pesquisas, mas também sobre a aplicação dessas teorias."

A diversidade cultural no quadro de professores também é relevante para o IE. Boehn ressalta que ser exposto a diferentes visões de mundo estimula o aprendizado e ajuda a desenvolver uma mente aberta. "Além disso, um quadro de professores internacional pode oferecer aos estudantes uma perspectiva global de como fazer negócios em um mundo cada vez mais conectado". Já na LSE, 45% dos professores vêm de fora do Reino Unido. Essa mistura de nacionalidades, segundo um porta-voz da instituição, ajuda a criar um ambiente estimulante intelectualmente.

Fonte: Novos horizontes para PhDs - Valor Econômico - Adriana Fonseca -13/12/12

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