Quando a Hewlett-Packard investiu aproximadamente US$ 10 bilhões na compra da empresa de software Autonomy, achava que estava comprando um pedaço do futuro - investindo na tendência dos grandes dados. Mas a aquisição acabou sendo um fracasso. E não só porque a HP amortizou US$ 5 bilhões da compra.
A infeliz união das empresas é uma lição para a HP e outras gigantes do setor de tecnologia, que apostam bilhões de dólares na aquisição de empresas que aparentemente estão mudando o jogo, na tentativa de estabelecer uma base para o futuro.
Nesse futuro, os smartphones e os tablets, conectados a centros de dados de computação em nuvem, são instrumentos essenciais de trabalho. E vastos fluxos de dados são continuamente analisados para encontrar novos padrões e fazer previsões sobre consumidores e produtos. A Autonomy produz software que analisa padrões de marketing e orienta empresas em temas como onde ela deve aumentar seus recursos de marketing.
Essas forças ameaçam empreendimentos mais antigos, como os tradicionais produtos de armazenamento de dados e computação pessoal da HP. Companhias como Oracle, Microsoft e Cisco também enfrentam a pressão. Estão todas tentando comprar o futuro.
Em julho a Microsoft decidiu pagar US$ 1,2 bilhão pela Yammer, que fabrica uma espécie de Facebook para escritório. A Oracle pagou recentemente mais de US$ 3,4 bilhões por duas pequenas empresas que fornecem software para administração de vendas e recursos humanos. No domingo passado, a Cisco fez um acordo de compra, por US$ 1,2 bilhão, da Meraki, que administra o serviço de internet gratuito sem fio na Starbucks. Existem muitos acordos desse tipo.
O ritmo de mudanças é tão rápido que o Google - até recentemente visto como destruidor dos pequenos - pagou US$ 12,5 bilhões pela Motorola Mobility, para fortalecer os smartphones concorrentes da Apple. No início deste ano, o Facebook gastou US$ 750 milhões no Instagram para não perder o que virá em seguida na mídia social.
Mas identificar o que virá no futuro é difícil, disse Jeffrey Sonnenfeld, professor de administração na Yale University. "Aquisições como a da Autonomy têm 40% de chances de sucesso e 60% de fracasso", disse ele. O risco está no fato de que as empresas consideram tais aquisições "vitórias naturais, inevitáveis". Para o professor, elas devem ser vistas "a título de investimento, como no campo da pesquisa e desenvolvimento".
O ritmo de aquisições não chega ao nível observado durante a bolha da internet, nos anos 1990, quando a Cisco pagou US$ 9,6 bilhões por três empresas de rede que os executivos, à época, disseram que não renderiam nenhum benefício. Em 2002, a AOL Time Warner abateu US$ 54 bilhões a título de fundo de comércio relativos à sua atribulada fusão.
Mas houve também sucessos notáveis. A EMC, fabricante de equipamentos de armazenamento de dados, pagou em 2003 US$ 625 milhões pela VMWare, empresa de computação em nuvem. Hoje, a participação da EMC equivale a US$ 30 bilhões.
A Microsoft, que pagou US$ 5,5 bilhões pelo Skype em 2011, informou que a Yammer será incluída no software de produtividade e comunicações da versão premiada do Office sem nenhum custo. Mas não informou se, ou como, a Yammer propriamente dará lucro.
Na verdade, o problema da Autonomy tem a ver menos com as vendas, que são questionáveis, e mais com a sua tecnologia, disse Leslie Owens, que faz análises de dados na Forrester Research. "A HP achou que era uma plataforma inteiramente nova, mas os clientes da Autonomy disseram que ela não é tão boa quanto o produto de busca para empresas do Google", disse ela.
A Autonomy, que foi criada há 16 anos, "baseava-se no uso de algoritmos poderosos", disse Leslie. Mas o software não estava sintonizado com "os novos tipos de sinais de busca, o que seus amigos estão fazendo, que pessoas gostam do que você está fazendo, que outros dados você deve evitar".
Numa demonstração do produto da Autonomy no mês passado, a HP parecia ter resolvido alguns desses problemas, mas outros ficaram. Um aplicativo para ajudar a saber o que pagar por anúncios na internet inicialmente não funcionou, e depois apresentou resultados similares aos de vários outros produtos.
"Continuamos totalmente comprometidos com a Autonomy e sua tecnologia de vanguarda", informou a HP em comunicado. A empresa acusou a Autonomy de contabilizar inadequadamente grande parte das suas vendas nos anos anteriores à compra pela HP. A companhia amortizou a soma de US$ 5 bilhões relacionada ao preço de aquisição da Autonomy.
"Foi muito decepcionante", afirmou a presidente da HP, Meg Whitman, referindo-se à amortização feita. "Nós integramos a tecnologia em vários lugares; e vamos integrá-la ainda mais."
Tropeço da HP mostra o risco de ‘comprar o futuro’ - 22 de Novembro de 2012 - Quentin Hardy, The New York Times
24 novembro 2012
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