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24 outubro 2012

Graciliano Ramos

[...]A versatilidade e o engajamento politico de Graciliano fizeram do autor alagoano "um dos escritores mais singulares da literatura brasileira", nas palavras de Moraes. O biografo cita as glorias e os tormentos que seu personagem conheceu. Foi um romancista aclamado pela critica, mas tambem, por outro lado, preso politico de um regime repressivo e, no ultimo decenio de vida, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) durante a Guerra Fria, "sempre obrigado a ter varios empregos para sobreviver". Um desses empregos foi no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Vargas, justamente o regime que Graciliano criticou e o encarcerou.

Moraes ressalta, tambem, a figura do autor de "Vidas Secas" e "Angustia" como pessoa publica. Ele foi prefeito da cidade de Palmeira dos Indios, onde residiu de 1910 a 1930 (com um breve intervalo no Rio em 1914-1915). Ao renunciar a prefeitura, mudou-se para Maceio,
onde se tornou diretor da Imprensa Oficial de Alagoas, depois diretor da Instrucao Publica do Estado. Ja no Rio, em 1939, foi nomeado inspetor federal de ensino secundario da entao capital do pais. As experiencias justificam que seu biografo se refira a Graciliano Ramos como "um dos mais eloquentes exemplos da corda-bamba em que caminha um intelectual critico no Brasil". E acrescenta: ainda hoje. O retrato de Graciliano e o de um criador "dividido entre o binomio criacao-reflexao e a necessidade de buscar alternativas para se sustentar
financeiramente".


A breve experiencia de Graciliano a frente do Poder Executivo de um municipio brasileiro, como prefeito de Palmeira dos Indios, deixou como legado dois relatorios de prestacao de contas que, hoje, sao lembrados sobretudo por seu valor literario e o tom corrosivo, caracteristico de Graciliano. Sobre o antigo contrato de eletricidade do municipio, escreve o prefeito: "A prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negocio referente a claridade, julgo que assinaram aquilo as escuras. E um bluff. Pagamos ate a luz que a lua nos da".


Moraes caracteriza Graciliano como "um prefeito revolucionario", que pos fim a corrupcao na gestao municipal, controlou as financas, fez obras em bairros pobres, abriu estradas e recuperou escolas. Quando teve de multar o proprio pai, Sebastiao Ramos, porque sua loja descumpriu normas municipais, Graciliano afirmou: "Prefeito nao tem pai, a lei vale para todos". Segundo Moraes, foi a repercussao dos relatorios de Graciliano, primeiro em Maceio e, em seguida, no Rio, que lhe rendeu convites para publicar na entao capital federal os romances "Caetes" (1933) e "Sao Bernardo" (1934).


[...]A par do olhar agucado sobre a realidade da vida humana, Graciliano foi um escritor que privilegiou a concisao e a clareza; conta-se dele que se revoltou quando um redator da revista que editava utilizou o termo "outrossim". Nas palavras do proprio escritor: "Odeio gorduras desnecessarias e derramamentos insuportaveis". Moraes conta que Heloisa Ramos, mulher de Graciliano, comentou a forma obsessiva como cortava o texto de "Vidas Secas", considerada sua obra-prima: "Voce esta cortando tanto que esse livro vai acabar saindo em branco!"

Fonte: Lembranças de Graciliano Ramos - Diego Vianna Valor Econômico - 19/10/2012

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