Ao formalizar a proposta para a oferta pública de suas ações na Bolsa de Valores (IPO, em inglês), o Facebook, a maior rede social da internet, fundada por Mark Zuckerberg, destacou a eficácia de anúncios vinculados aos amigos de clientes, citando uma pesquisa da Nielsen, firma de medição de audiência.
Barbara Jacobs, diretora-assistente de Finança Corporativa da Securities and Exchange Commission (SEC, o xerife americano do mercado financeiro), duvidou, e ela e sua equipe vetaram o pedido para garantir que o Facebook divulgasse toda informação potencialmente relevante para os investidores. Segundo um memorando de Barbara, dirigido ao diretor-executivo de Finanças do Facebook, David Ebersman, a afirmação da rede social parecia mais anúncio publicitário do que uma pesquisa da Nielsen.
A diretora da SEC deu um ultimato: “apresente o estudo e o consentimento da Nielsen para usar seus dados ou simplesmente não o use”, escreveu ela a Ebersman, em 28 de fevereiro. Após resistir, o Facebook desistiu de usar a referência.
O incidente foi apenas parte de uma intensa troca de mensagens, que durou dois meses e meio, entre autoridades da SEC e a firma de advocacia do Facebook, Fenwick & West LLP. Uma dúzia de cartas, publicadas um mês após o IPO do Facebook, ocorrido em 17 de maio, revelam uma diretoria não apenas relutante em revelar informações, mas ainda especulando sobre aspectos rudimentares de seu negócio, a apenas algumas semanas de a companhia realizar o maior IPO do setor tecnológico. Muitos dos questionamentos levantados pela SEC, que hoje atormentam investidores, foram vislumbrados na troca de correspondência entre a SEC e o Facebook.
— Deram a eles o benefício da dúvida quando os deixaram ofertar publicamente suas ações, considerando que estavam preparados para o novo momento — disse uma fonte da Wedbush Securities. — Eles (o Facebook) ainda não conseguiram provar que estão.
Uma das questões cruciais para a SEC, envolvendo o futuro do Facebook como empresa com ações na Bolsa, era se a companhia conseguiria converter em receita o número crescente de usuários que acessam a rede a partir de plataformas móveis, pois estes veem menos anúncios que os demais clientes. E as cartas mostram os executivos retendo detalhes importantes, levando a SEC a pressioná-los.
Ao perceber que o Facebook estava contando o número de alguns usuários móveis duas vezes, Barbara escreveu em 22 de março: “Por favor explique-nos como vocês garantiram que seus números não estão exagerados.” A apenas oito dias do IPO, no dia 9 de maio, o Facebook deixou claro num documento que o número de usuários móveis crescia mais rapidamente do que os anúncios, o que prejudicava a receita e o lucro. Foi o primeiro sinal público de que o IPO poderia ficar aquém das altas expectativas que despertara.
Cada vez mais desconfiados
A questão dos usuários móveis é ainda mais relevante hoje, na medida em que o Facebook anunciou no início do mês que tem um bilhão de usuários em todo o mundo, frente aos 845 milhões do início do ano. Mais da metade deles (600 milhões) acessa a rede por dispositivos móveis, com crescimento de 41% neste ano.
— Estamos nos tornando cada vez mais desconfiados de alguns dos métodos de obtenção de lucro (do Facebook) — disse Richard Greenfield, analista da BTIG Research, à TV Bloomberg na última segunda-feira, ao se referir à luta da companhia de Zuckerberg para extrair receita dos usuários móveis. Ele está sugerindo a seus clientes que se desfaçam das ações.
Fonte: O Globo
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