(...) Para evitar ser novamente vítima de seus próprios executivos, a Siemens criou um método de controle minucioso. Antes do escândalo das propinas, apenas 80 pessoas cuidavam das normas de conduta da empresa em mais de 190 países. Hoje, Giovanini tem 45 profissionais só na operação brasileira (são 600 no mundo). Ele estima que, para montar a estrutura global antifraude, a companhia tenha gasto 1 bilhão de euros só com consultorias.
Mais do que dinheiro, a tarefa exigiu paciência. O primeiro passo foi revisar todos os processos internos. Giovanini comandou um levantamento das competências de cada um dos 10 000 funcionários no Brasil para, em caso de problema, detectar com rapidez a origem e atribuir responsabilidades.
A medida, conceitualmente simples, mas de execução complexa, levou dois anos até ser concluída. “Só a introdução desse tipo de controle já inibe metade dos desvios nas empresas”, diz Humberto Salicetti, sócio da área de controle de fraudes da consultoria KPMG.
Além disso, a companhia investiu em uma série de sistemas para controlar atitudes suspeitas. Um deles, informatizado, impede o registro duplicado da mesma nota fiscal e emite um alerta se alguém tenta alterar a lista de fornecedores — cada mudança tem de ser aprovada pela equipe de Giovanini.
Criou-se também um canal de denúncias anônimas: a cada quatro registros, um se confirma verdadeiro. Um mecanismo adicional garante proteção aos delatores. Quem preferir se identificar ao fazer uma queixa do chefe não pode ser demitido sem a autorização de Giovanini.
Como medida de prevenção, cada funcionário é treinado pelo menos uma vez por ano para saber como agir no trabalho e qual punição para os deslizes. Antes da demissão, existem duas etapas de advertência, de acordo com a gravidade da conduta. Executivos com problemas de fraude na equipe podem ficar sem receber parte ou todo o bônus se não resolverem a situação em seis meses.
Para zelar por essa cadeia, é preciso montar uma equipe de auditoria interna — seja com funcionários próprios, seja com terceirizados de empresas especializadas. No caso da área de compliance da Siemens, todos são próprios.
Embora poucas empresas discutam o assunto abertamente, há sinais evidentes de reforço nesse tipo de controle no país. Um deles é a prosperidade dos especialistas.
(...) Segundo especialistas, torna-se cada vez mais comum que consultores investiguem candidatos a postos executivos — com a solicitação de atestado de antecedentes criminais, busca por processos na Justiça e, no caso da alta administração, na Comissão de Valores Mobiliários, no Tribunal de Contas da União e em agências reguladoras.
Muitas subsidiárias passaram a ganhar atenção especial da matriz, sobretudo em empresas que sofreram algum trauma recente. É o caso da varejista americana Walmart, acusada em abril de oferecer 24 milhões de dólares em propinas em troca de licenças para a construção de lojas no México.
Esquadrão antifraude dentro das empresas - 20 de Outubro de 2012 - Portal Exame
Ana Luiza Leal
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