Segundo um novo estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, a fraude é um verdadeiro problema em publicações científicas e tem aumentado no decorrer das décadas.
O estudo analisou 2.047 artigos sobre pesquisas biomédicas (desde 1973) que foram mais tarde desacreditadas e retiradas de publicações científicas - constatou-se que a principal razão para a retratação não foram erros honestos (não propositais), mas sim fraude.
Mais de 40% das retratações foram devido à descoberta de fraude e 23% de plágio. A taxa de retratações de artigos publicados, apesar de pequena em porcentagem (cerca de 2.000 entre dezenas de milhões publicados nas últimas quatro décadas), está crescendo: aumentou cerca de 10 vezes nos últimos 37 anos.
Essa tendência é preocupante, porque mesmo um número muito pequeno de artigos fraudulentos pode acarretar enormes danos. A maior fraude mencionada no estudo é do Dr. Andrew Wakefield, um inimigo de vacinação. Seu trabalho científico falso relatava uma ligação entre autismo e vacinas, o que teve um impacto devastador sobre a saúde e o bem-estar de bebês e crianças de todo o mundo, pois as mães entraram em pânico e não quiseram vacinar seus filhos com medo deles ficarem doentes. Apesar do artigo ter sido retratado e desacreditado, muitos ainda continuam achando que Wakefield estava certo.
Recentemente, um médico britânico, Benjamin Goldcare, denunciou uma prática da indústria farmacêutica de omitir resultados negativos de novos remédios para vendê-los como se fossem eficazes. A cada ano, são testados e lançados uma infinidade de novos medicamentos. O sistema de teste e aprovação desses remédios coloca controle excessivo nas mãos dos fabricantes, de forma que eles quase sempre podem definir qual o veredicto sobre qualquer medicamento em fase de experimentos. Em busca de proteger os próprios interesses econômicos, os laboratórios farmacêuticos nem sempre liberam os remédios ao mercado com a garantia de que farão bem aos pacientes. Esse mecanismo coloca uma série de medicamentos no mínimo ineficazes no mercado. Além de não surtirem o efeito esperado, podem ocasionar novos problemas no organismo.
Com tudo isso, nos perguntamos: até que ponto devemos confiar em pesquisas científicas e na indústria farmacêutica?
Arthur Caplan, chefe da Divisão de Ética Médica do Centro Médico Langone da
Universidade de Nova York (EUA), acredita que denúncias são um grande passo para acreditarmos nos médicos e cientistas. A capacidade de admitir que há fraudes e “maçãs podres”, significa que o meio está alerta e consciente da necessidade de mais esforços para mudar esse cenário.
Caplan suspeita que a natureza cada vez mais competitiva da ciência, o desejo de garantir mais subsídios, patentes e patrimônios, a proliferação de revistas que não estão fazendo um bom trabalho de revisão também são culpados pelo aumento das fraudes. Segundo ele, a biomedicina tem de agir para deter essa tendência crescente. Mais educação para jovens investigadores científicos, sanções mais duras para fraude, e aumento dos recursos e recompensas para revisão científica podem ajudar a interromper essa onda.
Fontes: dth media, BBC News e HyperScience
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