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06 fevereiro 2012

Bolsa Brasileira de Mercadorias


Com problemas nos sistemas de informática e dificuldade de emplacar novos produtos, a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), instituição sem fins lucrativos controlada pela BM&FBovespa, enfrenta uma rebelião de parte de suas corretoras associadas. Os problemas, que se arrastam há pelo menos três anos, se agravaram desde que a bolsa colocou no ar um novo sistema para intermediar licitações públicas.


A BBM nasceu da fusão de sete bolsas regionais, com o objetivo original de integrar as bolsas de mercados físicos e a de futuros, via BM&F. Posteriormente, passou a oferecer uma plataforma para mediar pregões eletrônicos para órgãos públicos.

Embora atue com quatro principais linhas de negócio, hoje apenas a intermediação de leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) efetivamente gera receita para a bolsa. Para fechar as contas, a instituição depende também da taxa cobrada dos quase 250 associados.

O volume negociado na BBM em 2011 registrou queda de 12,4% em relação ao ano anterior e somou R$ 6,1 bilhões. Embora apresente o maior giro, o registro de contratos de balcão rende poucos emolumentos para a bolsa. No caso específico das licitações, foco dos problemas recentes, o valor movimentado na plataforma da BBM foi de R$ 179 milhões no ano passado, uma redução de 25%, de acordo com dados da própria instituição.

Com a promessa de modernizar os sistemas e trazer mais receitas para as corretoras, a bolsa gastou pouco mais de R$ 8 milhões desde 2008 com investimentos em processamento de dados, de acordo com demonstrativos obtidos pelo Valor. Em 2010, apenas essa despesa representou quase 30% da receita líquida da instituição.

Lançado há pouco mais de um ano, o novo sistema tem apresentado problemas constantes, conforme o relato de duas corretoras e um usuário do sistema, que pediram para não ser identificados. Uma terceira corretora confirmou o caso, mas preferiu não falar com a reportagem. Segundo as fontes, a dificuldade com a operação tem levado os órgãos que promovem licitações a migrar para outras plataformas que oferecem serviços semelhantes.

Questionada, a BBM não informou os gastos com o sistema nem as receitas geradas pelo negócio de licitações. A instituição se pronunciou apenas por nota, na qual confirmou que a plataforma apresentou instabilidades que se concentraram entre julho e agosto de 2011. “Depois disso, medidas preventivas adicionais foram tomadas com o objetivo de evitar a recorrência de instabilidades, e a plataforma está operando dentro da normalidade”, afirma.

O estopim dos desentendimentos entre bolsa e corretoras vem de antes dos problemas de informática e teve início em 2008, a partir de mudanças na forma de cobrança pelos serviços. Até então, a bolsa recebia uma taxa equivalente a 1,5% ao valor da licitação – semelhante aos leilões da Conab -, cuja receita era dividida entre a corretora que vencia a disputa e a que trouxe o órgão público para realizar o pregão no sistema da BBM.

Após questionamentos de participantes e problemas de inadimplência, a bolsa decidiu cobrar apenas uma taxa fixa de uso e abriu o sistema para que qualquer interessado pudesse participar dos leilões, sem a necessidade de interferência de uma corretora.

Várias delas não se adaptaram aos novos tempos. Estima-se que quase metade das associadas da BBM hoje estejam inativas. E todos os associados que não geram negócios para a bolsa – menos a BM&FBovespa – são obrigados a pagar a taxa de contribuição em dobro. As divergências levaram a corretora paranaense Pregnet a constituir uma nova bolsa e a entrar com uma ação judicial contra a BBM e a BM&FBovespa. Procurada, a Pregnet confirmou o processo, mas disse que não comentaria o assunto.

As demais corretoras sobreviventes passaram a atuar em outros portais que oferecem pregões eletrônicos. Trata-se de um mercado com grande espaço para crescimento, uma vez que a maior parte das prefeituras e órgãos públicos ainda realiza licitações da maneira tradicional. A maior visibilidade e acesso a competidores proporcionados pelos sistemas reduzem a probabilidade de fraudes nas licitações e costumam se traduzir em economia para os cofres públicos.

Como ainda detêm títulos da BBM, as corretoras são as maiores interessadas na recuperação da bolsa. O investimento em um novo sistema de licitações foi apresentado como uma forma de reagir ao crescimento recente de portais concorrentes. Mas até o momento a iniciativa não surtiu o efeito desejado. O software, que teria sido desenvolvido por uma empresa ligada à BM&FBovespa, apresenta lentidão na atualização dos lances dos leilões e costuma sair do ar, conforme o relato de usuários.

Para reduzir a dependência das corretoras a uma única linha de negócio, a bolsa criou novos produtos nos últimos anos, mas que até o momento “não pegaram”. É o caso dos leilões de produtos físicos, como feijão e carne bovina, que registraram volume de R$ 2,8 milhões, em apenas 71 operações, durante todo o ano passado.

Outra alternativa para os associados seria a atuação em outros mercados, como os leilões da Conab, que efetivamente apresentam volume e negócios. As corretoras alegam, porém, que esses são mercados cativos e, portanto, de difícil entrada.

Fonte: Vinícius Pinheiro, Valor Economico

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