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20 novembro 2011

Natura integra projeto global para relatório mais transparente



A forma como a Natura se comunica com seus investidores será tomada como exemplo na criação de um modelo global de relatório que integre informações financeiras e não financeiras. A empresa é umas das 50 companhias, ao lado de Nestlé, Microsoft, Coca-Cola, Tata, entre outras, que farão parte de um projeto piloto do Comitê Internacional para Relatórios Integrados (IIRC, na sigla em inglês) para testar a nova abordagem, cujo principal objetivo é dar pistas sobre o futuro do negócio.

A Natura adota o relatório único, com dados financeiros e de sustentabilidade, desde antes da abertura de capital, em 2004, conta Roberto Pedote, o vice-presidente de finanças, jurídico e de tecnologia da informação. "Quando a empresa se comunica, ela procura abordar os diversos aspectos do negócio, não só os financeiros, como sua relação com a sociedade e o meio ambiente", diz.

Na visão do presidente do conselho do IIRC, Mervyn King, a Natura só faz isso porque a preocupação com a sustentabilidade do negócio está incorporada na gestão da companhia, desde o processo de produção. Pedote conta que toda decisão na companhia passa por uma avaliação de impacto não só financeiro, mas também na sociedade, como no caso da abertura de uma comunidades de fornecedores na Amazônia, ou no meio ambiente, quando da fabricação de uma nova linha de produtos.

Mas o trabalho não está terminado. Pedote cita, por exemplo, a necessidade de a comunicação das informações não financeiras ser feita com um olhar prospectivo. De maneira geral, diz, o relatório hoje trata do passado. Outro aspecto é integrar, de fato, os balanços financeiro e socioambiental, como pretende o IIRC. É aí que começa um dos desafios.

O primeiro passo é integrar as equipes, a fim de alinhar o discurso, segundo o professor Nelson Carvalho, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, que também faz parte do IIRC. Enquanto o relatório financeiro é feito pela controladoria ou diretoria de finanças, o de sustentabilidade é feito pelo marketing, cujo mandato é vender a companhia. No relatório integrado, exemplifica, se o balanço financeiro mostrar um passivo ambiental ou trabalhista, a empresa vai ter de se explicar.

As companhias também poderão fazer conexões entre medidas gerenciais adotadas, por exemplo, para reduzir a emissão de poluentes e o reflexo disso no caixa. "Hoje, esse 'link' não é relatado", diz Carvalho. O professor conta ainda que a ideia é trabalhar não só com fatos, mas também com premissas - auditadas - e projeções para todas as atividades da empresa, incluindo as que afetam colaboradores, sociedade e ambiente. A nova contabilidade já incorpora uma visão prospectiva, porque traz o conceito do valor justo. Mas o desafio, diz o professor, é encontrar a ligação entre informações qualitativas e quantitativas.

"O valor contábil de uma empresa como a Natura nunca será igual ao valor econômico", afirma King, do IIRC. Segundo ele, não dá para colocar na conta ou avaliar ativos intangíveis, como boa reputação e governança, empregados orgulhosos e motivados. Mas King ressalta que a Natura tem consumidores satisfeitos e uma imagem de empresa que explora os recursos naturais de forma sustentável, o que tem impulsionado seu crescimento econômico.

Toda essa cultura da Natura, acrescenta Pedote, traduz-se numa marca valiosa. Mas colocar isso numa conta é perigoso, explica o executivo, uma vez que abre espaço para um "trade off" [negociação] de princípios. Do ponto de vista do investidor, diz, quando mais de uma empresa estiver adotando o relatório integrado, será possível compará-las para tomar uma decisão.

Pedote reconhece que a boa reputação da companhia não se reflete necessariamente no desempenho das ações da companhia. "Tem investidor que está conosco desde a abertura de capital, porque acredita no valor da empresa", diz. Para King, do IIRC, quem tem esse olhar não é operador, mas o investidor que aposta no negócio, na companhia e quer saber se ela vai sobreviver.

O relatório piloto da Natura, assim como o das outras empresas, servirá de base para um modelo padrão, juntamente com as sugestões que estão sendo colhidas em audiência internacional liderada pelo IIRC até o dia 14 de dezembro. A ideia, conta o professor Carvalho, é chegar no formato final até o fim de 2012 para então levar a proposta ao G-20, a fim de legitimá-la. "Mas isso é apenas o começo de uma jornada que pode levar 20 anos para se transformar em normas", diz.


Fonte: Alessandra Bellotto De São Paulo
Valor Econômico 14/11/11

Leia o post: Divulgação de informações não financeiras

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