O texto a seguir comenta sobre a constituição de provisão para liquidação de créditos duvidosos, que o texto chama de "calote", nos dois tipos de instituição financeira:
Dados do Banco Central mostram que, no último trimestre, bancos particulares separaram R$ 1 em provisão para cada R$ 9,10 emprestados. Já os públicos reservaram R$ 1 para cada R$ 34,90 em novos financiamentos.
Bancos públicos e privados chegam ao atual estágio da crise - considerado o mais grave até agora - com estratégias bem diferentes para se preparar contra uma eventual piora da saúde financeira dos clientes. Desde o início do ano, instituições privadas têm aumentado as provisões em ritmo mais forte que as operações de crédito. Nos públicos, acontece exatamente o contrário: empréstimos crescem mais que as provisões contra calote.
Enquanto as operações de crédito dos bancos particulares cresceram 3,6% de junho a agosto, a provisão aumentou 6,5%. No mesmo período, empréstimos em instituições como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES avançaram 5,8%, ritmo mais forte que a alta de 3,7% da reserva contra a inadimplência. A diferença se repete em outras comparações desde o início de 2011. (...)
Essa mudança, porém, ainda não provoca desconforto no mercado. Analistas que acompanham o setor bancário dizem que o fenômeno pode ser explicado pela natureza dos empréstimos. Bancos privados podem ter ficado mais conservadores graças ao aumento de empréstimos considerados mais "arriscados", como cartões de crédito e financiamento de veículos.
Nos públicos, por sua vez, a necessidade de provisão pode ter caído porque ganharam peso financiamentos mais seguros, como o crédito imobiliário (?) e o financiamento a grandes empresas. Realmente, instituições como a Caixa e BNDES atuaram agressivamente para ganhar mercado nesses segmentos. (...)
Bancos públicos ignoram efeitos da crise e reduzem reservas contra calote - Fernando Nakagawa, de O Estado de S.Paulo. (Imagem: The Guardian)
A redução da provisão nos bancos públicos pode ser em:
a) decorrência do perfil de empréstimo diferenciado - entretanto isto não justifica completamente, já que o risco sistêmico é maior;
b) em razão da maior utilização da conta de provisão nas instituição privadas como uma forma de gerenciamento de resultado; ou
c) em decorrência do não uso da conta de provisão nas instituições públicas, como uma maneira de continuar garantindo crédito na economia. Neste caso, os problemas de inadimplência irão aparecer no futuro, nas próximas gestões destas instituições.
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