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13 outubro 2011

Desvio de recursos na subsidiária brasileira da Siemens

A gigante alemã Siemens surpreendeu o mercado nesta terça-feira, 11, ao anunciar a demissão do presidente da subsidiária brasileira, Adilson Primo. Em comunicado mundial, a empresa nomeou Paulo Ricardo Stark para o comando da unidade do Brasil e escancarou o motivo do afastamento de Primo.

Segundo a multinacional, após investigação interna, foi descoberta uma “grave contravenção das diretrizes da Siemens” envolvendo diretamente o executivo, que iniciou a carreira como trainee da empresa na sede na Alemanha. No mesmo local, 34 anos depois, Primo recebeu a notícia de sua demissão do presidente mundial, Peter Löscher, e encerrou sua história na empresa.

O executivo estava em Munique desde domingo para participar de uma convenção anual da Siemens, mas apenas foi informado da decisão na manhã desta terça. Primo não foi encontrado para rebater as acusações de supostas irregularidades. Até mesmo diretores próximos a ele não conseguiram contactá-lo até o fim da tarde.

Segundo fontes ligadas à empresa no Brasil, a grave contravenção destacada no comunicado da Siemens se refere a desvio de dinheiro da subsidiária para uma conta pessoal do executivo na Europa. As operações teriam ocorrido entre 2005 e 2006 e envolveriam a cifra de 7 milhões.

Após a descoberta de escândalos de pagamento de suborno a consultores em várias partes do mundo, a tradicional multinacional alemã decidiu implementar um rígido programa de ações preventivas contra corrupção em suas unidades. “A Siemens aplica o princípio de tolerância zero para os casos de contravenção de compliance. A empresa defende com convicção os negócios honestos – sempre e sem exceções”, destacou a companhia no comunicado.

Foi nesse pente fino que a suposta operação feita por Primo teria sido detectada e mais tarde comprovada por auditoria do escritório Debevoise & Plimpton.

Apesar disso, a contravenção continua sob investigação, mas pela decisão de ontem já há certeza de que alguma prática ilegal foi cometida na unidade brasileira. A notícia sobre a demissão teve anúncio praticamente simultâneo no mundo todo. Em cerca de três horas, o comunicado estava concluído para ser divulgado.

Surpresa.

O afastamento de Primo e o suposto desvio de recursos da companhia pegou todo mundo de surpresa no mercado. Entre diretores de outras empresas que conheciam o executivo, a prática não condiz com a imagem criada por Primo durante sua carreira na Siemens. Nos últimos três anos, ele ganhou status no grupo por conseguir turbinar o desempenho da subsidiária brasileira acima do verificado por países como China e Índia.

Diante dos resultados positivos, foi fácil convencer o comando alemão a liberar recursos para novos investimentos no Brasil. Em cinco anos, Primo conseguiu abrir oito fábricas no País. “Tinha gente que achava que ele era tão bom a ponto de acreditar que poderia liderar a matriz na Alemanha”, afirmou uma fonte ligada à unidade nacional. No ano fiscal de 2010, a empresa alcançou faturamento de 1,8 bilhão e pedidos no total de 2,1 bilhões.

Depois de três décadas, Primo fazia planos para se aposentar. “Por isso mesmo foi espantoso saber dessa notícia”, disse o executivo de uma empresa do setor elétrico e eletrônico. Ele descreve o ex-presidente da Siemens como um homem extremamente educado, acima de qualquer suspeita. “Caí do cavalo.” Na unidade brasileira, ele era caracterizado pela liderança rígida e correta. Era firme e transparente. “Ia direto ao assunto sem ser deselegante.”

Segundo fontes, Paulo Ricardo Stark já estava sendo preparado para substituir Primo após sua aposentadoria. Com 42 anos de idade, ele iniciou sua trajetória na Siemens em 1988. Passou pela antiga Siemens Mobile e depois seguiu para o México e Alemanha, onde ocupou a diretoria de uma unidade de negócios do setor industrial. No ano passado, retornou ao Brasil, e agora assume o comando de cerca de 10 mil empregados.

Além de manter o desempenho positivo da subsidiária brasileira, Stark também terá a missão de apagar mais um escândalo que abala a imagem da companhia.


Fonte: Renée Pereira, de O Estado de S. Paulo

Outra reportagem no Valor:

Em outras palavras, a demissão de Primo, funcionário desde 1976 e presidente desde 2001, foi resultado de uma extensa investigação por suspeitas de desvio de dinheiro. Após a comprovação por auditoria interna, a Siemens contratou o escritório de advocacia Debevoise & Plimpton para fazer uma investigação independente. O desvio foi confirmado.

Segundo o Valor apurou com algumas fontes, foram 6,5 milhões de euros. O dinheiro foi transferido para uma conta de Primo na Europa. A empresa não informou qual divisão – e se foi apenas uma - prejudicada com o desfalque. A investigação ainda está em andamento.

Apesar de causar surpresa, a notícia foi recebida de forma positiva por muitos funcionários. Afinal, dizem eles, condiz com a recente linha de “tolerância zero” da Siemens ao não cumprimento das chamadas “compliances”, o jargão empresarial para condutas éticas e profissionais.

“Isso é positivo porque a tolerância zero é mais importante que qualquer pessoa dentro da empresa”, disse um pessoa familiarizada com a empresa. “Até o Löscher está sujeito a investigação constante”.

Primo teria feito as retiradas indevidas antes de 2007, quando estourou o maior escândalo de propinas da história da multinacional. O episódio foi escancarado por Peter Löscher, o austríaco com ampla experiência no setor farmacêutico e ex-GE (a arquirrival americana da Siemens), para por ordem na casa e conduzir a companhia para uma nova era de transparência e agilidade. Assim que assumiu a presidência global, Löscher demitiu cerca de 100 altos executivos e nomeou um diretor mundial de “compliance”, responsável por manter um gigante andando nos trilhos. O pente-fino nas contas da empresa foi vital para descobrir os problemas no Brasil.

Primo será substituído por Paulo Ricardo Stark, de 42 anos, um executivo considerado brilhante dentro da empresa, com passagens pela filial mexicana e pela matriz. Stark havia sido nomeado recentemente para assumir a direção do novo setor de negócios verdes criado pela Siemens, o Cidades e Infraestrutura.

Fonte: Bettina Barros Valor Economico

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