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16 setembro 2011

UBS 1


A última mensagem postada no Facebook por Kweku Adoboli - um operador do UBS de 31 anos e centro de um escândalo de trading envolvendo US$ 2 bilhões - dizia, simplesmente: "preciso de um milagre".


O mesmo, agora, necessita o UBS. Os esforços do grupo suíço para reconstruir seus negócio de investimentos já estavam trôpegos antes da notícia de que Adoboli fora detido na madrugada de quinta-feira sob suspeita de orquestrar uma fraude.


Embora o UBS deva ser capaz de absorver um revés de US$ 2 bilhões em seu balanço, a divulgação renovou as pressões para que o grupo separe ou venda seu banco de investimentos e redirecione o foco exclusivamente para a operação "core", de gestão de fortunas.


"Quantas vezes ainda teremos de ver o UBS incorrer em enormes prejuízos?", disse Simon Maughan, diretor de vendas e distribuição da MF Global, em Londres. "(O banco) parece incorrigível, inadministrável e, em última análise, insustentável. Esse pode ser um ponto crítico de inflexão para a estratégia do UBS".


Na Suíça, políticos aproveitaram a revelação como prova adicional de que o governo precisa controlar seu desmedido setor bancário mediante medidas mais duras de requisitos de capital e limites mais rigorosos ao assumir de riscos.


"Para um banco que cometeu erros no passado, é absolutamente inaceitável", disse Fulvio Pelli, presidente do partido dos Liberais. Mais tarde, ele acrescentou que um projeto de lei suíço visando enquadrar seu setor bancário "grande demais para falir", além de requisitos de capital mais exigentes, é o caminho a seguir.


Oswald Grubel, executivo-chefe do UBS, passou os últimos dois anos e meio trazendo o grupo de volta da beira do abismo, após registrar US$ 50 bilhões em baixas contábeis na época da crise nas atividades de banco de investimentos. No mesmo período, a instituição foi impactada por uma investigação prolongada sobre se havia ajudado ricos clientes americanos a sonegar impostos por intermédio de seu banco privado suíço.


Após acumular algum impulso inicial, os deprimentes resultados do banco para o primeiro semestre deste ano levaram Grubel a delinear um abrangente programa de corte de custos em julho. O banco reduziu a escala de suas ambições em atividades como banco de investimentos, para apenas disponibilizar produtos e serviços necessários a apoiar sua atividade como banco privado.


Altos executivos do UBS reconheceram que o mais recente escândalo impactará toda sua frágil clientela, impondo mais um pesado revés para um grupo cuja reputação entre os clientes particulares e empresariais tinha apenas começado a se recuperar. Durante sua disputa com a fiscalização americana sobre evasão tributária, por exemplo, 165 bilhões de francos suíços (US$ 190 bilhões) em ativos sob gestão no UBS abandonaram o banco.


"Isso é a última coisa que precisávamos ou desejávamos", disse um executivo.


O UBS prometeu melhorar sua gestão de riscos e seus procedimentos de conformidade, na esteira de seu quase colapso durante a crise. No início do ano, o banco recrutou Maureen Miskovic, ex-diretor de riscos do Lehman Brothers e da State Street, grupo americano de serviços financeiros, com a promessa de continuar a promover uma revisão exaustiva de seus procedimentos.


Detalhes sobre as operações de trading realizadas por Adoboli ainda estavam emergindo na noite de quinta-feira. Mas o caso, considerado o terceiro maior escândalo envolvendo um operador de trading irresponsável, trouxe à mente de imediato paralelos com o prejuízo de 4,9 bilhões de euros (US$ 6,8 bilhões) causado ao banco francês Société Générale por Jérôme Kerviel em 2008.


Como Kerviel, Adoboli operava uma forma de negócios com derivativos conhecida como "Delta One", um nicho em rápido crescimento, porém nebuloso, de atividades bancárias de investimentos que envolvem negócios de valores mobiliários que acompanham ativos subjacentes - como ações ou a prata -, o mais próximo possível. As operações são freqüentemente associadas aos Exchange Traded Funds (ETFs) e swaps.


A escala do alegado prejuízo, que segundo o UBS deverá levar o banco para o vermelho no terceiro trimestre - na prática elimina o efeito dos 2 bilhões de francos em cortes de custos planejados para os próximos dois anos, a maioria dos quais viriam da eliminação de 3,5 mil empregos. Durante o segundo trimestre, a média do "valor em risco" no UBS - uma medida padrão diária referente ao maior montante de risco de prejuízos com operações de trading a que bancos ficam expostos em um único dia - era de apenas 75 milhões de francos suíços.


"Simplesmente não consigo entender como isso pode ter acontecido", disse um banqueiro envolvido em atividades de trading semelhantes em um banco de investimentos americano. "É simplesmente um número grande demais. Deve ser um evento 'Kerviel', sobre cujas operações eles achavam que haveria um hedge".


O UBS deve ser capaz de suportar o impacto financeiro que o atingiu - no fim do segundo trimestre, o banco tinha um patrimônio tangível de 38,4 bilhões de francos suíços e 33 bilhões de francos suíços em capital básico. O prejuízo causado pelo operador irresponsável, relativamente a esses valores, é de 4,4% e 5,2%, respectivamente, de acordo com uma análise feita pelo Goldman Sachs.


Se algum dos altos executivos do UBS, entre eles Grubel ou Carsten Kengeter, ex-parceiro no Goldman Sachs que comanda as atividades do UBS como banco de investimentos, serão forçados a arcar com os prejuízos isso dependerá da extensão de eventual prática da atividade fraudulenta nas operações, especularam analistas e pessoas que trabalham no gigante suíço.


Grubel, que na Suíça é também considerado como responsável pela recuperação do Credit Suisse, principal concorrente do UBS no mercado local, disse em memorando aos funcionários que, embora a notícia seja "perturbadora", isso não mudará "o vigor fundamental da nossa empresa".


Mas um banqueiro sênior disse sobre Grubel: "Ele deve ter perdido muita credibilidade, politicamente, entre as pessoas, com esse evento".


Rombo de US$ 2 bi é duro golpe para o UBS - Por Megan Murphy e Haig Simonian | Financial Times - Publicado no Valor Econômico - 16 set 2011. Figura, Flickr

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