Albert Fishlow talvez seja o acadêmico americano que mais bem conhece a economia do Brasil. Viveu no país e, nos anos em que deu aulas em Berkeley e Columbia, orientou uma série de economistas que viriam a se tornar autoridades econômicas em toda a América Latina. Ontem, em Nova York, este brasilianista lançou o livro “Startin Over – Brazil Since 1985” e fez uma série de declarações céticas sobre o futuro da economia brasileira.
“Enquanto o Brasil vende commodities para a China, os chineses vendem produtos industrializados para os brasileiros e acaba com a indústria local”, disse ontem no Council of the Americas para uma platéia que incluía a embaixadora Maria Luiza Viotti e os principais investidores especializados em Brasil em Nova York. “Falam do superávit primário, mas se esquecem do déficit total”, acrescentou.
Fishlow advertiu ainda que a “China crescerá apenas 7% no ano que vem e esta taxa dois pontos percentuais a menos será grave para o Brasil”. O endividamento dos brasileiros das classes C, D e E e a baixa taxa de investimento também preocupa. “Na China, a taxa de investimento é de 45%; Na Índia, 38%; no Chile, 24%; na Coréia do Sul, 30%. Já no Brasil, apenas 18%”, repetiu o professar para um problema que ele sempre mencionava quando me dava aulas na Universidade Columbia cinco anos atrás.
“São urgentes reformas educacionais, na saúde e política. Como podem ter 20 partidos”, alertou. Segundo o economista, “Dilma quer criar uma tecnocracia de Estado, mas isso não funciona em democracias”.
Intrigado, perguntei ao professor americano sobre como a Copa do Mundo e as Olimpíadas afetariam a economia brasileira. “Não sei se a Olimpíada será boa para o Brasil, mas a Grécia organizou uma em 2004″, respondeu. Com esta frase como resposta espetacular, tive que deixar de lado hoje os assuntos de EUA e Oriente Médio para falar de Brasil.
Pobreza nos EUA
Sei que muitos dirão – “O que este economista americano está falando, já que no país dele tem 46 milhões de pessoas vivendo na pobreza”. Bom, segundo os critérios do governo dos EUA , tem sim. Mas lembro que pobre nos EUA é quem tem uma renda familiar abaixo de US$ 22 mil por ano. Isso equivale a cerca de R$ 3 mil mensais no Brasil. Quantos brasileiros estariam na miséria se os critérios aplicados por Washington fossem usados por Brasília?[1]
Fonte: Gustavo Chacra
[1] Leia o post :Você acha que faz parte da classe média?
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