Efeito manada, excesso de otimismo, aversão à perda, autoconfiança exagerada. Esses são alguns sintomas comuns em investidores e que têm sido foco de diversos estudos ao redor do mundo sob o tema das finanças comportamentais.
Despertar a consciência do investidor sobre os sintomas psicológicos que surgem a partir da relação com investimentos e dinheiro é uma maneira de aguçar a razão e evitar que a emoção influencie nas decisões, segundo especialistas.
De acordo com dados levantados pelo banco Santander, 40% dos clientes que fizeram cursos ou participaram de palestras sobre finanças comportamentais obtêm melhores rentabilidades nos investimentos.
"Isso ocorre porque o investidor percebe que é preciso raciocinar antes de tomar a decisão e não simplesmente fazer porque os outros fizeram", analisa Vera Rita de Mello Ferreira, psicanalista especializada em psicologia econômica e autora de dois livros sobre o tema.
Aquiles Mosca, estrategista de Investimentos Pessoais do Santander, cita um estudo da Universidade de Cambridge para comprovar a falta de racionalidade que há na relação com os investimentos. "O maior medo do ser humano é falar em público. Em segundo lugar está a morte. E a terceira aflição é o futuro financeiro. Se há esse medo, há emoção em excesso."
Aconselhamento. Um levantamento da Infomoney feito com centenas de brasileiros mostra que somente 4,75% dos investidores tomam decisões com base na opinião de profissionais especializados; 30,71% decidem unicamente por sua própria análise; 22,57% são pouco influenciados pela soma de análises próprias e profissionais; e 41,97% ponderam as opiniões de conhecidos e as percepções próprias.
Para Bernardo Nunes, que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre finanças na Nova School of Business Economics de Lisboa, o investidor que passa a conhecer "os vieses e desvios da racionalidade mais comuns pode evitar uma boa parte das perdas e passa a lidar com o assunto finanças de uma forma mais eficaz".
Institucional. Os estudiosos do assunto afirmam que já há uma incorporação do tema nos escopos mais tradicionais da economia, apesar de ainda haver preconceito dos economistas mais antigos. "Depois da crise financeira de 2008, certamente as finanças comportamentais ganharam ainda mais relevância", diz Vera Rita.
O próprio Santander é um exemplo de incorporação do tema. Há pouco mais de dois anos, as finanças comportamentais são tema de cursos e palestras do banco. "Há benefícios ao banco. Por exemplo, 12% dos clientes que participam desses cursos e palestras tornam-se mais promotores do banco", conta Mosca.
Nunes conta que Áustria, Inglaterra, Holanda e Suécia são os países mais avançados nesse processo em termos acadêmicos. "Na psicologia econômica como um todo", diz.
Especificamente sobre as finanças comportamentais, que são um braço da psicologia econômica, os Estados Unidos lideram a incorporação, tanto no meio acadêmico quanto no prático, de acordo com Nunes.
"Nos Estados Unidos, as certificações profissionais de finanças, como a CFA, incorporam questões de finanças comportamentais nas provas", explica. "No Brasil, o assunto também já é tratado na certificação CGA, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)", exemplifica.
Conhecimento ajuda a domar a emoção ao investir - Roberta Scrivano - O Estado de S.Paulo - 4 de out de 2010
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