O “Financial Times” dia sim diz que a economia brasileira é um “sucesso”, dia não afirma que há uma “bolha em formação” no País. A impressão que passa é de um jornal contraditório consigo mesmo ou, no mínimo, instável. Mas é uma impressão falsa.
A ideia geral que aparece em todos esses textos – considerando editoriais e reportagens, não artigos assinados – é uma só: a de que o País trilhou uma trajetória econômica de sucesso e se vê hoje em um ponto decisivo, um momento em que saberemos se a evolução observada nos últimos anos veio para ficar ou não.
Esse ponto de vista, por sinal, é o mesmo na maior parte da imprensa internacional. Do progressista francês “Libération” ao conservador americano “The Wall Street Journal”, momentos de entusiasmos e críticas se alternam, mas normalmente sem contradições.
O “Libération”, em setembro do ano passado, colocou uma foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na capa de uma revista especial intitulada “Os rostos do novo Brasil”. Na mesma reportagem, dizia que Lula “deixou a desejar” em questões como saúde e educação públicas.
O “Journal”, também em 2010, publicou caderno especial com o título: “Para o Brasil, o amanhã chegou”; dias depois, uma de suas principais colunistas afirmou: “Freie o entusiasmo com o Brasil”.
Há vários casos similares de alternância entre entusiasmo e críticas. Em comum, todos eles acreditam, e não negam, que “o Brasil decola”, como afirmou a revista britânica “The Economist” em capa ainda de 2009. Mas todos eles observam indicadores desfavoráveis ou pelo menos ameaçadores. Desde problemas históricos, como os custos para as empresas e a falta de infraestrutura, até temas do momento, como as pressões inflacionárias e as medidas para esfriar a entrada de capital estrangeiro.
O “Financial Times” é o jornal que melhor espelha o aumento do interesse da imprensa internacional pelo Brasil. Entre os grandes jornais do mundo, é o que mais publica reportagens sobre o País, segundo uma pesquisa da Imagem Corporativa, à frente inclusive do argentino “Clarín”. Além disso, o “FT” mantém o blog BeyondBrics, com informações sobre países emergentes, lançou neste ano a revista Brazil Confidential, focada no País, e o site Tilt, também a respeito de mercados em desenvolvimento.
É normal, portanto, que o “FT” pareça o mais contraditório dos jornais estrangeiros. É fato que o que se publica no exterior nem sempre coincide do que sai por aqui. Mais uma coisa em comum entre os veículos citados acima: todos eles atribuem aos dois últimos ex-presidentes, e não apenas a um deles, a responsabilidade pela atual fase que a economia do País vive.
Fonte: Sílvio Guedes Crespo - Radar Econômico
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