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23 agosto 2011

C3 encontra obstásculos

(...)Se por um lado a C3 vai dar mais transparência à cessão de crédito, evitando a duplicidade na venda de ativos, há, por outro lado, um conjunto de fatores que pode limitar o potencial de desenvolvimento desse mercado.

A investida mais forte de grandes bancos de varejo nos segmentos de crédito consignado e financiamento de veículos verificada do começo do ano para cá é um desses fatores. Aproveitando a brecha deixada pelas instituições pequenas e médias, que por conta da maior exigência de capital para empréstimos de longo prazo a pessoas físicas acabaram colocando o pé no freio nas concessões, alguns bancos como o Santander parecem ter mudado de estratégia, preferindo liberar crédito diretamente.

“Quando se compra crédito o cliente não está com você”, afirmou Marcial Portela, presidente do banco de capital espanhol, durante anúncio do resultado do segundo trimestre. Segundo o diretor de relações com investidores de um banco médio que preferiu não ser identificado, houve um deslocamento da compra de recebíveis para o Bradesco. “Só que ele [Bradesco] não vai conseguir suprir o mercado inteiro”, ressaltou.

Embora tenha diminuído o ritmo de compras, o Bradesco promete continuar como uma das instituições financeiras ainda mais ativas no mercado de cessões. “Sempre fomos fortes e seguiremos comprando créditos de bancos com os quais costumamos trabalhar”, disse há duas semanas ao Valor Domingos Abreu, vice-presidente do banco. “É uma questão de oportunidade, simples assim”, completou. O saldo de créditos adquiridos pelo Bradesco encerrou junho em R$ 6,443 bilhões, crescimento de 0,4% na comparação com março e de 42% em relação a junho de 2010. As compras se concentram em crédito consignado para pensionistas e aposentados do INSS.

Francisco Ferreira, diretor financeiro do Bonsucesso, especializado em crédito consignado, diz que a maior limitação encontrada para ceder créditos ao longo deste ano foi o próprio volume de negócios produzido pelo banco, apesar de Itaú Unibanco e Santander terem deixado de comprar seus ativos desde o escândalo do PanAmericano. As parcerias estão concentradas, agora, em três bancos, mas Ferreira se mostra otimista com a C3.

“Os grandes bancos têm potencial e capacidade para absorver mais ativos do que aqueles que estarão originando”, diz Ferreira. O Bonsucesso tem registrado na C3 um estoque de R$ 1,366 bilhão. No primeiro semestre, o banco cedeu R$ 870 milhões.

A entrada em vigor da resolução 3.533 do Banco Central (BC), que vai proibir, a partir de janeiro de 2012, a antecipação de receitas obtidas com a cessão de créditos feita com coobrigação – modalidade mais usual, em que o risco de crédito é dividido entre comprador e vendedor – poderá ser outra restrição no caminho da C3.

A aposta de parte do mercado financeiro é que as cessões feitas sem coobrigação (nas quais o risco de crédito é totalmente transferido ao comprador) passem a ganhar mais espaço. Segundo Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne bancos pequenos e médios, a cessão sem coobrigação já deve representar cerca de 30% do mercado. “O que vai diferenciar uma da outra é preço”, conclui.

Com isso, espera-se maior transparência e segurança nesse mercado, capaz de evitar que uma mesma operação de crédito seja vendida mais de uma vez, como era prática comum no banco que pertencia ao empresário Silvio Santos.

A C3 estreia com um estoque de 13 milhões de contratos e R$ 80 bilhões em volume financeiro – 60% de crédito pessoal com desconto em folha de pagamento e 40% de financiamento de veículos. A Febraban espera que a central ajude a restabelecer a cessão, uma das principais fontes de financiamento dos bancos menores e que patina desde dezembro.

Fonte: Aline Lima, Valor Economico

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