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11 agosto 2011

Bloqueio de escritor: perfeccionismo

ou A Porcaria da Primeira Versão - Por Isabel Sales

Imagine a cena: você vai a uma entrevista de emprego e te perguntam qual o seu maior defeito e sua maior qualidade. Você pensa bem e como uma das respostas escolhe: perfeccionismo. Aparentemente uma característica dedicada, importante... mas como qualidade ou defeito?

A meu ver, algo só é ruim (com suas devidas exceções, claro) quando te atrapalha de alguma forma. O seu perfeccionismo, por exemplo, pode ser algo bom, se você o souber equilibrar, ou algo ruim, se sair do seu controle.

Os perfeccionistas editam enquanto escrevem seu primeiro rascunho. Eles sofrem com o parágrafo introdutório, o que faz com que a qualidade da escrita diminua na medida em que o trabalho aumenta. Eles raramente compartilham rascunhos iniciais e só pedem comentários em trabalhos com a escrita polida. Eles se preocupam em não perder uma referência em particular e então continuam a ler e ler, devorando a literatura. Isso sacrifica parte do tempo que deveria ser empregado na escrita. Lembre-se: sempre haverá um artigo ou trabalho a mais pra ler.

No livro “Demystifying dissertation writing”, a autora Peg Boyle dá algumas dicas para que o perfeccionismo não cause bloqueio de escritor. Por exemplo, quando você começar a escrever, nunca comece pelo parágrafo introdutório. Você pode conseguir escrever parágrafos introdutórios convincentes e eloquentes, mas na defesa da sua tese a sua banca não vai te aprovar com base em alguns parágrafos perfeitos.

Isso é muito importante: enquanto você escreve, não procure por erros de digitação. Se possível, desabilite temporariamente o corretor ortográfico do seu editor de textos. Além disso, esteja preparado para escrever XXXXX como uma marca substitutiva caso você não consiga se lembrar da palavra perfeita. A sua meta é continuar a escrever e não ficar se incomodando com uma palavra, sentença ou parágrafo.

No livro “Bird by bird” a escritora Anne Lamott discorre sobre a “porcaria da primeira versão”. Ela afirma que todos os escritores passam por ela (shitty first draft). É assim que se chega a um bom segundo rascunho e a uma ótima terceira versão. Compartilhe o seu primeiro rascunho com alguém em quem confie, não tenha medo. Assim será possível receber feedbacks valiosos sem que você precise investir tempo demais com o desenho da palavra certa ou com a estrutura sentencial perfeita.

Os perfeccionistas em particular estão suscetíveis a empacar no primeiro rascunho. O que posso dizer? Coloque a primeira versão no papel e aí, apenas aí, comece a trabalhar a eloquência dos parágrafos. Após escrever uma primeira versão “esmigalhada”, você pode ativar o seu perfeccionismo e polir as migalhas até formar uma tese completa e excepcional. Mas – e isso é importante – você precisa estabelecer prazos com o seu orientador ou parceiros de estudos para que haja um incentivo de encerrar o polimento.

Um amigo me ensinou que um rascunho só deixa de ser um rascunho quando é publicado. Sempre há algo que pode ser melhorado, revisado. Mas a partir do momento em que o seu orientador aprovou a sua versão, o único passa que te faltará será: depositar o seu trabalho.



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