Páginas
▼
21 julho 2011
Roubo de Auditores
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recebeu uma denúncia inédita. A BDO, quinta maior firma de contabilidade do mundo, acusa a KPMG de prática anticoncorrencial por comprar quase toda sua equipe de auditores e consultores, cerca de 750 profissionais.
A BDO tinha uma parceria no Brasil com a Trevisan, que a colocava entre as cinco maiores no país. Neste ano, os sócios decidiram ir para a KPMG, num negócio estimado em R$ 150 milhões.
A BDO, quinta maior firma de contabilidade do mundo, apresentou uma denúncia inédita de prática de concorrência desleal no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade): a "compra" de toda sua equipe de auditores e consultores - de cerca de 750 profissionais - pela concorrente KPMG em março. A BDO apresentou impugnação da operação no mesmo mês.A equipe da BDO era formada por profissionais de uma parceria da firma com o empresário Toninho Marmo Trevisan, a BDO Trevisan. O empresário saiu do negócio em 2009, vendendo sua participação para os demais sócios. Em março deste ano, eles fecharam com a KPMG. O negócio foi estimado em R$ 150 milhões.
A disputa entre a BDO e a KPMG no mercado de auditorias acendeu um sinal de alerta no Cade do Ministério da Justiça, que pretende fazer uma ampla análise da competição no setor.
Inicialmente, o Conselho vai verificar se a contratação pela KPMG da equipe de auditores da antiga Trevisan prejudica a competição. A partir da análise desse caso específico, o Cade vai partir para uma verificação maior envolvendo todo o mercado. O objetivo é saber se as aquisições realizadas pelas quatro maiores firmas - KPMG, Deloitte, PricewaterhouseCoopers e Ernst & Young - estão prejudicando a concorrência.
Segundo o conselheiro Olavo Chinaglia, relator do processo, essas empresas, conhecidas como "Big Four" (as quatro grandes), estão realizando aquisições de equipes inteiras de companhias concorrentes em vários países. Ao fazê-lo, elas levam também os clientes dessas equipes.
"Onde existia um quinto concorrente, além das "Big Four", com capacidade maior de crescer, aparentemente está havendo um movimento no sentido de adquiri-lo", afirmou o conselheiro. "É uma circunstância que vamos levar em consideração", completou.Chinaglia obteve essas informações em conversas com integrantes do Cade britânico, o Office of Fair Trading (OFT). "Eles falaram sobre o setor de auditoria e disseram que há operações no mundo todo", relatou. Para ele, é importante para o Cade compreender o contexto mundial em que essas aquisições acontecem, pois elas terão reflexos no Brasil. "Claro que estamos observando não apenas o caso (da KPMG e da BDO), mas tentando identificar o que acontece no mundo todo."
A concentração das maiores empresas do setor, no Brasil, é significativa. As quatro maiores firmas de contabilidade do país ficaram com 96% de toda a receita paga pelas 200 maiores contas entre as companhias abertas, em 2009. Contabilizadas as aquisições feitas pela KPMG e pela Ernst & Young, a concentração subiu para 99,9%, na mesma base de comparação.
Segundo Chinaglia, a discussão envolvendo a concorrência entre auditorias é nova no Brasil e diferente de todos os outros casos no Cade. "Não estamos falando da aquisição de unidades industriais ou de marcas, mas sim, da transferência de capital intelectual."
O processo está sob análise inicial da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, que vai fazer um parecer sobre o assunto, indicando medidas a serem adotadas pelo Cade. Para tanto, a Seae terá de definir quais os mercados principais de competição das firmas de auditorias e verificar como se dá a concorrência em cada um deles. A secretaria já iniciou uma divisão entre alguns mercados para diferenciar, por exemplo, as auditorias de grande porte das chamadas auditorias em capital fechado para fins fiscais. A Seae não tem prazo para concluir essa análise.
A aquisição da equipe da BDO foi interpretada como um movimento de reação da KPMG ao avanço da rival Ernst & Young, que adquiriu a Terco, então parceira da Grant Thornton, no fim de 2010.
O executivo-chefe da BDO, Jeremy Newman, espera que o Cade dê uma sinalização de que está atento aos movimentos anticoncorrenciais no mercado de auditoria e envie uma mensagem de que não permitirá mais aquisições como as que ocorreram.
"Ninguém falou nada quando a Ernst & Young comprou a Terco", comenta. "Deixar que esse tipo de movimentação aconteça de novo e de novo, não é inteligente para o mercado."
Procurada, a KPMG disse que está "certa de que a transação é legítima e não provocará concentração de mercado" e que "se exime de emitir comentários sobre o processo até a sua conclusão."
'Roubo' de auditores chega ao Cade - Marina Falcão, Denise Carvalho e Juliano Basile | De São Paulo e Brasília - Valor Econômico - 21/07/2011 (dica de Caio Tibúrcio, grato)
Como se diz, qualquer que seja há área econômica, praticamente todo o mercado fica no máximo normalmente com até 5 empresas. Muitos oligopólios e tendendo em alguns casos a quase monopólio. É o capitalismo das fusões, das incorporações em busca se possível do domínio na área de atuação se não de todo o mercado, de praticamente todo os com muitos poucos concorrentes.
ResponderExcluirExcelente post, infelizmente nos dias atuais tudo pode ser comprado, até uma equipe de auditores e consultores. Sem dúvida o capitalismo das fusões e das incorporações no mercado contribui muito para que isso aconteça.
ResponderExcluirAbs!