O dilema alugar versus comprar nos tempos atuais, sob a ótica dos estúdios e gravadoras:
Desde que as lojas de vídeo da Blockbuster tornaram-se bem-sucedidas, os consumidores têm a opção de escolher entre pagar menos para alugar um filme ou mais para comprá-lo. O cálculo geralmente se baseia na frequência com que os usuários acreditam que vão ver o conteúdo, mas fatores menos racionais são levados em conta, como o desejo de criar uma videoteca com os filmes de Truffaut, que você dificilmente veria, mas impressionaria os amigos.
O que preocupa as companhias de mídia é que os americanos tornaram-se “uma nação de locatários”, segundo recente análise de Michael Nathanson, do banco de investimento Nomura. Se antes eles alugavam DVDs na Blockbuster, o que dava aos estúdios US$ 1,45 por filme, agora eles preferem assinar serviços digitais como o da Netflix, cujo lucro é de US$ 1,25, ou usar quiosques de aluguel como o da Redbox, que pagam aos estúdios apenas US$ 1 por filme.
Com os consumidores se movendo da compra, que proporciona altas margens, para o aluguel, de margens baixas, a perspectiva é de que o lucro anual dos estúdios por residência caia de US$ 135 em 2005 para apenas US$ 89 em 2015, segundo projeção divulgada em março pelo banco Morgan Stanley.
A equação alugar-versus-vender é diferente na área de música, porque as pessoas que assistem à série “Família Soprano” só uma ou duas vezes, podem ouvir o álbum de uma soprano de ópera dezenas de vezes. No entanto, o acesso sob demanda por uma tarifa mensal muda essa equação, e o streaming ou os modelos de acesso adotados por serviços como Pandora e Spotify ganham terreno, enquanto os downloads continuam sob o mesmo ritmo.
No mundo digital, ter a propriedade de grandes arquivos de vídeo também engorda o espaço ocupado no disco rígido, estimulando os consumidores a buscarem os serviços de streaming. Por que, então, as empresas de conteúdo veem os novos serviços de armazenagem na “nuvem” como uma oportunidade adicional de crescimento? A Apple, com o serviço iCloud, e outras companhias encorajam o hábito de manter a propriedade do conteúdo: os usuários podem acessar, de qualquer aparelho, o conteúdo que eles já compraram.
(...) Qualquer um que já viu “Toy Story” vezes sem conta com seus filhos diria que comprar sempre faz sentido para alguns filmes. Com conteúdo atrativo, e o empacotamento correto, você ainda pode persuadir as pessoas a comprarem [conteúdo]. Desde a chegada dos Beatles ao iTunes, em novembro, 1,3 milhão de cópias digitais de seus álbuns foram vendidos, com a ajuda de “extras” como um documentário exclusivo. Em resumo, para os que os produtos empacotados do setor de mídia sobrevivam, as companhias de conteúdo terão de ser melhores na tarefa de embalá-los.
Mídia se debate entre comprar e alugar - Financial Times - Andrew Edgecliffe-Johnson - publicado no Valor Econômico de 16 de jun de 2011, via aqui
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