Será ‘educação’ a próxima bolha? – Por Isabel Sales
Recebi de Érica Chad, a quem agradeço, uma reportagem da The Economist com uma discussão sobre uma possível bolha na educação. Acrescento que as justificativas são pertinentes atualmente ao mercado norte-americano, mas não deixa de ser uma ótima leitura. Especialmente no ponto em que se ressalta a exigibilidade de maior nível educacional dos profissionais.
Nessa reportagem mencionada, Peter Thiel, um investidor legendário que inclusive foi retratado no filme sobre o Facebook, afirma que:
“A educação é uma bolha no sentido clássico. Para se chamar algo de bolha é necessário que esteja supervalorizado e que haja uma grande crença naquilo. Moradia foi uma bolha clássica, assim como as ações tecnológicas nos anos 90, porque ambas estavam supervalorizadas, mas havia uma crença difundida que quase não poderia ser questionada – você deveria possuir sua própria casa em 2005 e você deveria estar em um fundo de índices do mercado de capitais em 1999.
Provavelmente o único candidato que sobra para uma bolha – ao menos no mundo desenvolvido (talvez os mercados emergentes sejam uma bolha) – é a educação. É basicamente extremamente sobrevalorizada. Objetivamente, quando se faz as contas, as pessoas não estão conseguindo os retornos para o seu dinheiro. E ao mesmo tempo é algo em que se acredita intensamente; há certo componente psicossocial ao fato das pessoas pegarem esses enormes empréstimos quando vão pra faculdade simplesmente porque é o que todos estão fazendo.
Isso é, a meu ver, de algumas formas, pior que a bolha imobiliária. Algumas coisas a fazem pior. Uma é que quando as pessoas cometem erros ao pegarem um empréstimo educacional, é legalmente muito mais complicado de se livrar que empréstimos imobiliários. Com a moradia, há tipicamente uma não obrigação de pagar, você pode simplesmente sair da casa. Com a educação há a obrigação de pagar (há um fiador). Se você pegou dinheiro emprestado e foi para uma universidade na qual a educação não te acrescentou valor, isso foi potencialmente um grande erro”.
No original da The Economist, na coluna Lexington, não há concordância com essas ideias, “mesmo que venham de pessoas ricas e inteligentes” (então deve haver algo singelo nessa teoria...), já que, por exemplo, os últimos dados disponíveis sugerem que as inscrições nas universidades continuam a crescer e que cursar uma faculdade ainda traz retornos. De acordo com informações do último censo nos Estados Unidos, os rendimentos médios totalizavam US$ 83.144 por ano para aqueles com diplomas avançados (mestrado ou doutorado), comparado a US$ 58.613 para aqueles com apenas o grau de bacharel. Aqueles com apenas ensino médio têm em média US$ 31.283 de rendimento anual.
Um professor da Universidade da Califórnia, Norton Grubb, afirmou que essa hipótese de bolha é “ridícula”. O problema é que não há rotas rápidas para ocupações melhores e salários altos como antigamente, a não ser por aquele que possuem destrezas singulares (atletas, estrelas do rock, estrelinhas se preparando para “revelar tudo”) – o que a maioria de nós não possui. A educação não deixou de trazer seus retornos esperados, não em termos de renda a empregabilidade. Mas hoje em dia se espera maior graduação dos profissionais, o que não era exigido a décadas atrás.
A coluna da The Economist acrescenta não estar negando a existência de uma bolha. Esse é apenas o início de uma discussão. Talvez isso ainda não tenha sido refletido nos números... O que você pensa sobre isso?
Clique aqui para ler o texto na íntegra (em inglês).
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