(...) O Japão moderno simplesmente não tem como funcionar sem a Tepco. Assim como os grandes bancos, a Tepco é indispensável. Se foi negligente em seu planejamento contra (e na reação ao) desastre de março - e há amplas evidências -, é possível atribuir isso em grande parte a seu status de empresa de serviços públicos grande demais para falir. O "risco moral" não se restringe apenas aos bancos. Uma explicação para o histórico da Tepco é o sistema "amakudari" (descendo do paraíso), pelo qual funcionários públicos ganham empregos fáceis em setores que eles costumavam fiscalizar. Toru Ishida, ex-autoridade do setor de energia no ministério que regula a energia nuclear, ganhou uma alta posição de consultoria na Tepco. Masataka Shimuzu, presidente da Tepco que saiu de cena depois que a usina de Fukushima começou a vazar radiação em março, é o vice-presidente do Keidaren, sinal da imensa influência da Kepco. O número de pessoas que passam dos órgãos reguladores para o setor privado pode até não ser muito grande. Mas os laços entre reguladores e regulados são bem próximos. Estruturalmente, isso ocorre porque o regulador do setor nuclear faz parte do Ministério do Comércio, que vê seu trabalho de promover o uso de energia nuclear como uma forma fácil de livrar o país da necessidade de petróleo estrangeiro. Ainda mais importante, Tepco e governo estão do mesmo lado. Depois do primeiro choque do petróleo, a opinião pública superou sua antipatia pela energia nuclear, cujas origens remontavam à experiência japonesa em Hiroshima e Nagasaki. Os acidentes em Three Mile Island e Chernobyl, no entanto, afetaram o apoio público. Em resposta, tanto o órgão regulador como o setor nuclear minimizaram a importância dos riscos, uma situação quase ideal para encorajar o tipo de comportamento relaxado do qual a Tepco é culpada. Como os bancos, a Tepco presumiu que, se algo saísse errado, o governo assumiria o problema. A empresa já pressiona por uma interpretação favorável dentro da lei, o que poderia absolvê-la dos passivos decorrentes de desastres naturais. Sem isso, a Tepco parece estar condenada. Sua proporção de dívida em relação ao patrimônio é próxima a 300%, o triplo da média no setor. A menos que consiga elevar os preços da eletricidade, é difícil ver como poderá gerar fluxo de caixa suficiente para pagar pelo descarte de reatores velhos e construção de novos, enquanto assegura fontes de energia alternativas. Do ponto de vista dos acionistas, a Tepco pode seguir o caminho da British Petroleum ou da Enron. Quem comprou ações da BP tem agora uma alta de 70%. A Enron, claro, quebrou. A indústria nuclear japonesa se juntará aos bancos ocidentais como um caso de lucros privados e prejuízos socializados, a menos que a deixem seguir a trilha da Enron.Crise da Tepco no Japão faz o Lehman Brothers parecer uma ninharia - Valor Econômico - Traduzido do Financial Times - David Pilling - Crise da Tepco no Japão faz o Lehman Brothers parecer uma ninharia
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