Páginas

03 março 2011

Jeitinho

As auditorias chegaram a um consenso e não devem fazer ressalvas nos balanços das incorporadoras imobiliárias brasileiras que ainda adotarem as regras de contabilidade antigas para registrar no balanço o reconhecimento de receitas de vendas de imóveis na planta. Esse é um dos últimos temas de polêmica envolvendo a adoção do padrão internacional de contabilidade, o IFRS, pelo Brasil.

(...) Isso quer dizer que as auditorias vão dar parecer "limpo" - que significa em conformidade com a lei - para as incorporadoras que apresentarem seus números no chamado método POC (sigla em inglês do termo Percentage of Conclusion).

Por esse critério, as empresas imobiliárias reconhecem a receita de venda de imóveis residenciais de acordo com o percentual de andamento da obras.

Na prática, o consenso "permite" às auditorias contrariar o entendimento mais comum sobre o modelo contábil internacional IFRS, que passou a ser obrigatório no Brasil nos balanços referentes a 2010 e que são divulgados agora. No padrão IFRS, as incorporadoras costumam reconhecer a receita da venda de um imóvel toda de uma vez, no momento da entrega das chaves.

Essa regra é obrigatória mesmo para as empresas que tenham recebido parcela significativa do pagamento das vendas dos imóveis durante as obras.

(...) Conforme pessoas a par das reuniões que levaram as auditorias e a CVM a um consenso sobre os pareces, em vez de afirmar que os demonstrativos desobedecem os padrões do IFRS, conforme determinação do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb), os auditores afirmarão que as normas seguem o IFRS, de acordo com as regras do Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

Traduzindo ao pé da letra, o consenso deve evitar o desgaste das auditorias com os clientes, por conta de ressalvas, e com a CVM, que permitiu às incorporadoras usar o padrão POC.

Durante todo o ano de 2010, as incorporadoras imobiliárias brasileiras pressionaram os agentes reguladores para que a publicação dos balanços seguindo o padrão IFRS fosse prorrogada ou que as regras contábeis fossem mantidas. Venceu a segunda opção.

O que está por trás da resistências das incorporadoras em adotar o reconhecimento da receita nas chaves é o impacto que as novas regras provocariam nos seus resultados. Segundo estudo feito pelo banco Credit Suisse, em outubro de 2010, o percentual de queda nos resultados das empresas variaria entre 21% e 33% sobre as previsões do banco para 2011. O declínio médio seria de 28%.

(...) Caso o Ifric chegue à conclusão sobre essa polêmica e se manifeste, o Brasil deve adotar essa determinação, seja quando for. Se ficar claro que o reconhecimento da receita deve ser feito pelo POC, os auditores poderão dizer que os balanços seguem o IFRS conforme emitido pelo Iasb. A ênfase, então, deixa de constar no parecer.

Caso contrário, caberá às empresas mudar a contabilidade para registrar a receita somente no momento da entrega das chaves, se não quiserem ter parecer adverso dos auditores.

Contabilidade : Empresas poderão manter regras anteriores na elaboração dos balanços - Valor Econômico - Denise Carvalho e Fernando Torres | De São Paulo - 2/3/2011

A experiência de outros países de adotaram as normas internacionais já indicavam que este seria um setor sensível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário