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31 março 2011

Escolhas racionais? Nem tanto

Por Pedro Correia

Há uma corrente econômica e social que se baseia na idéia que os agentes (pessoas) realizam escolhas racionais para tomar decisões. Em cima desta premissa é montado um edifício de argumentos teóricos para determinar o uso racional de recursos. No fundo isto está ligada a idéia de maximização da utilidade.


Mas como sempre, há uma pedra no meio do caminho. Quem disse que nossas escolhas são racionais? A verdade é que percebemos de modo diferente o ganho e a perda. Não é apenas uma questão de maximização do ganho, mas também uma questão de minimização da perda. E a questão é como percebemos perda.


Na teoria o agente tem reações racionais a perda. Mas na realidade não funcionamos assim. E isto é mais sério do que parece.


Em termos simples, esta questão pode ser enunciada em termos de perdas certas e ganhos prováveis. Mesmo que as duas sejam matematicamente iguais, tendemos a escolher o lado dos ganhos prováveis.


Na realidade é pior: tendemos a escolher o lado dos ganhos prováveis mesmo quando são menos prováveis do que a perda certa.


Quer um exemplo?


Considere que estão passando dois filmes (X e Y) em cinemas próximos. Você queria ver X, mas estava lotado e com isso você compra o ticket para ver Y (que não é tão ruim, mas não é o filme X).


Até aqui está Ok.


Agora no caminho da bilheteria para a entrada do cinema, alguém lhe dá o ingresso de X e vai embora. Você vai ver X (que você não pagou nada) ou Y (que você pagou do seu dinheirinho para ver)?


A grande maioria vai ver Y, mesmo sendo X o filme que originalmente queria ver e mesmo que ECONOMICAMENTE a compra do ticket de Y equivale a compra do ticket de X. E o mais interessante é que irão surgir literalmente dezenas de explicações para este comportamento aparentemente irracional: a mais comum é "Ah, já comprei este aqui. Depois eu vejo o outro".


É este tipo de comportamento que estimula o crescimento de bolhas econômicas e outras tragédias mais ou menos comuns do dia-a-dia (um exemplo é manter uma decisão ruim só para não se retratar). Isto é intrínseco à nós mesmos. E temos de reconhecer isto e quando possível consertar.


Fonte:Mentiras que as pessoas contam

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