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21 novembro 2010

Sílvio Santos e o Panamericano

Não foi só com Luiz Sandoval, seu braço direito e amigo há 40 anos, que Silvio Santos brigou por causa do escândalo no Panamericano. Dias atrás, ele deu uma bronca em Wadico Bucchi, um dos conselheiros do banco, durante reunião com várias pessoas na sede da Caixa Econômica Federal, em São Paulo. A Caixa é sócia do Panamericano e o encontro tratava da crise criada com a descoberta da fraude de R$ 2,5 bilhões nas contas da instituição.

“O que você está fazendo aqui? Eu não te chamei para esta reunião”, Silvio disse a Wadico, segundo o Estado apurou. A seguir, o empresário fez várias colocações rudes, inclusive criticando Wadico por não ter percebido antes os problemas na contabilidade do Panamericano.

O pito foi presenciado pelos executivos que acabavam de ser contratados para substituir a antiga diretoria, demitida por causa da fraude, pessoas envolvidas na operação de resgate do Panamericano e por Luiz Sandoval. Procurado, Wadico disse que não podia dar entrevista, mas afirmou que já está tudo bem.

“Silvio ficou irritado com o Wadico, comigo, com todo mundo”, contou Sandoval na sexta-feira, um dia depois de pedir demissão da presidência do Grupo Silvio Santos. “E ele está irritado com razão, por tudo que aconteceu. Mas já passou, ele pediu desculpas ao Wadico.”

Ex-presidente do Banco Central e do Banespa, Wadico é um dos conselheiros mais experientes do Panamericano. Ele fica no cargo até a semana que vem, quando toma posse o novo conselho. Wadico era homem de confiança de Sandoval.

O episódio na Caixa contribuiu para desgastar um pouco mais o relacionamento entre Silvio e Sandoval, que ficou abalado depois da descoberta da fraude no Panamericano. Sandoval e Wadico eram as pessoas que faziam a ligação do empresário com seu banco e com o mercado financeiro. “Dá para entender o comportamento do Silvio. Fomos traídos”, diz Sandoval. “Mas nós éramos conselheiros e nenhum conselheiro ia pegar algo assim. Ele sabe disso.”

Rompimento. O estopim do rompimento, segundo fontes próximas ao empresário, estaria nas mudanças que Silvio deseja fazer na holding de suas empresas. Sua ideia seria enxugar a estrutura e levá-la para o SBT, para ficar mais perto dele. Sandoval viu nisso um sinal de perda de prestígio, eles brigaram e o executivo pediu demissão.

Sandoval não explica o motivo da última desavença, só repete o que tinha dito ao Estado na quinta: “Silvio queria decidir de uma maneira, eu de outra. Virou um conflito. Caso eu não concordasse, ele sugeriu que eu pedisse demissão. E foi o que eu fiz.”

Pessoas próximas de Silvio afirmam que o rompimento traz uma ironia. Havia algum tempo Sandoval, que era presidente do Conselho de Administração do Panamericano, defendia junto a Silvio a substituição de Rafael Palladino, o presidente do banco. Ex-professor de educação física, Palladino é primo de Iris Abravanel, mulher de Silvio, e aprendeu no Panamericano tudo que sabe sobre mercado financeiro. Na opinião de Sandoval, em razão de seu crescimento, o Panamericano precisava de alguém mais tarimbado no comando. “Sobre isso não falo. Já saí de lá”, disse Sandoval.

Tribunais. Além de ficar sem seu parceiro mais fiel no campo dos negócios, Silvio vai enfrentar momentos difíceis em família. Ele já afirmou que pretende demitir parte dos mais de 40 parentes dele e da mulher que trabalham em suas empresas, mas talvez o pior momento venha a ser com Palladino.

O empresário anunciou que vai processar os ex-diretores do banco e eles se preparam para enfrentar o ex-patrão nos tribunais. Palladino contratou para defendê-lo o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o advogado Celso Vilardi. Sonia Rao vai defender Wilson de Aro, que ocupava o segundo cargo mais importante na hierarquia do banco.


Silvio Santos à beira de um ataque de nervos - David Friedlander - 21 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

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