O rombo no balanço do Panamericano elevou o grau de ansiedade dos investidores que compram cotas dos dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que o banco oferece nas agências.
Desde que começou o problema, os resgates no Autopan e no Master Panamericano superam as aplicações.
E com folga. Neste mês, até dia 16, os dois FIDCs - também chamados de fundos de recebíveis - perderam um total de R$ 324 milhões em saques líquidos (descontados os depósitos) nas cotas seniores, segundo dados levantados pelas consultorias Fortuna e Risk Office.
Esses fundos têm como política de investimentos a aquisição de créditos originários dos financiamentos de veículos concedidos pelo Panamericano.
O Autopan promete retorno de 108% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto o Master Panamericano tem como rentabilidade alvo 112% do CDI. Os dois possuem liquidez diária, sendo que os resgates são pagos no dia seguinte ao pedido.
Foi valendo-se dessa prerrogativa que, estourado o escândalo no dia 10, os investidores imediatamente intensificaram os saques. Só no dia 11, o Autopan perdeu R$ 18 milhões e o Master Panamericano, R$ 65 milhões.
O auge dos saques ocorreu na terça-feira pós-feriado, quando o primeiro fundo viu R$ 31 milhões escorrerem pelo ralo e o segundo, outros R$ 127 milhões.
Os resgates de R$ 324 milhões representam cerca de 12% do patrimônio total que os dois FIDCs tinham no fim de outubro, de R$ 2,7 bilhões, incluindo as cotas seniores e as subordinadas.
Cerca de R$ 486 milhões eram do Autopan e R$ 2,2 bilhões, do Master Panamericano. Considerando apenas o patrimônio das cotas seniores (de pouco mais de R$ 1,6 bilhão), a perda chega a 20%.
As cotas subordinadas servem de garantia para as seniores em caso de inadimplência. Usualmente, são compradas pelo próprio emissor dos direitos creditórios (nesse caso, o Panamericano).
Se algum dos financiamentos de veículo da carteira dos FIDCs não for honrado, o prejuízo recai primeiro sobre as cotas subordinadas. As seniores - em certo grau, protegidas de calote - são as efetivamente distribuídas aos investidores. O patrimônio dos fundos em cotas seniores está hoje em R$ 1,3 bilhão.
Dificuldades
O número de cotistas nos fundos também reduziu sensivelmente. No Master Panamericano, caiu de quase 400 para 317. No Autopan, foi de 182 para 130.
Segundo dados levantados pela consultoria Economatica, fundos de investimentos de gestores como HSBC, Bradesco, BES, Banestes, Capitânia e Gap estão entre os investidores que compram cotas dos dois FIDCs.
"A liquidez diária dos FIDCs já mostra que o banco tinha certa dificuldade de captação. Não é simples vender créditos para honrar resgates", avalia o consultor de investimentos especializado em fundos Marcelo D'Agosto.
"Se confirmados, os resgates das últimas semanas, significa dizer que mais de R$ 300 milhões do aporte de R$ 2,5 bilhões feito pelo controlador com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foram usados só para comprar créditos incluídos nos FIDCs."
Isso sem contar os resgates nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do banco, sobre os quais não há informações oficiais disponíveis. Sem que as aplicações no fundo sejam retomadas, a tendência, segundo D'Agosto, é de que novos resgates saiam do aporte do controlador.
Procurado, o Panamericano informou que não falará sobre captações e resgates no momento.
Fundos do Panamericano perdem R$ 324 mi no mês - Mariana Segala - Brasil Economico - 19/11/10
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