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13 novembro 2010

Fantasmas Panamericanos

Ao menos dois ex-diretores do banco PanAmericano recorreram a um esquema que, nos últimos dois anos, criou cerca de 50 empresas fantasmas no Brasil.

Funciona assim: uma empresa é criada somente no papel com capital mínimo de R$ 100. Pouco tempo depois -geralmente, dois meses-, ela é transferida para outras pessoas. Em alguns casos, o nome da empresa também é alterado. Fica mantido apenas o CNPJ.

Dois exemplos desse esquema são: a Razak Empreendimentos (que recentemente mudou de nome para Bob Rik Serviços Administrativos) e a Antillas Empreendimentos e Participações (transformada há cerca de um mês em Lagonegro Empreendimentos).

Ambas as empresas foram criadas por Ivan dos Santos Freire e Valdison Amorim dos Santos.

O primeiro, um ex-estudante de direito, que passou anos trabalhando como estagiário de um escritório de advocacia que defende o diretório estadual do PT em São Paulo e políticos da cúpula do partido em SP.

ENTRA E SAI

Cerca de dois meses depois da constituição das duas companhias, Freire e Santos se retiraram da sociedade.

Em seus lugares, entraram na Razak e na Antillas, respectivamente, Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios do PanAmericano) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco).

O endereço em que as duas empresas foram registradas na Junta Comercial de São Paulo é o mesmo: uma sala em um prédio precário no bairro da Bela Vista, centro da capital paulista.

Ontem, a sala estava fechada e, de acordo com uma pessoa que estava no local, uma funcionária que recolhia a correspondência não é vista há algum tempo.

EMPRESAS

Desde 2006, quando começaram os problemas contábeis do PanAmericano, os oito diretores afastados do banco abriram ou adquiriram participação em ao menos 11 empresas.

As companhias pertencem a setores variados: de promoção de vendas ao segmento imobiliário, passando pelo processamento de pagamentos on-line feitos com cartão de crédito.

BRASPAG

Luiz Augusto de Carvalho Bruno também se tornou sócio, em 2007, da Braspag, empresa que processa 40% dos pagamentos em cartão de crédito feitos pela internet para as dez maiores varejistas do Brasil.

Dessa sociedade, fazem parte ainda outros dois ex-diretores do PanAmericano: Wilson Roberto de Aro (dos departamentos financeiro e de relações com investidores do banco) e Rafael Palladino (superintendente e de captação de recursos).

Palladino é primo de Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, e participa de 20 companhias ao todo, considerando as fatias adquiridas também antes de 2006.

Um executivo do segmento de e-commerce (comércio online) disse à Folha que, depois do episódio envolvendo o PanAmericano, varejistas estão preocupados com a saúde financeira da Braspag.

Isso porque, se a empresa tiver problemas, a substituição por uma concorrente não será um processo simples, devido ao grande volume de transações que a companhia processa.

OUTROS SEGMENTOS

Palladino, Aro e Bruno também são sócios de uma empresa do setor imobiliário registrada como Galeno de Almeida (aberta em 2007).

A companhia tem ainda participação da Sisan, que construiu o prédio do Pan Americano e o Sofitel Jequitimar (Guarujá), entre outros.

Já Carlos Roberto Vilani, ex-diretor comercial do banco, aparece como sócio de empresas do setor de promoções de vendas, como a VCA (de 2008) e Atitude (de 2009).

(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, ANDREZA MATAIS, CAROLINA MATOS E CLAUDIA ROLLI)


Folha de São Paulo - 13 de novembro de 2010 - Ex-diretores abrem empresas fantasmas


A Folha não localizou ontem os ex-diretores do banco PanAmericano Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios da instituição financeira) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco) para falar sobre a abertura de empresas.

Ivan dos Santos Freire, ex-estudante de direito envolvido no suposto esquema de abertura de empresas-fantasmas, disse à Folha que trabalha com assessoria empresarial e algumas das firmas são criadas a pedido de clientes.

Em alguns casos, segundo o sócio dele, as empresas continuam no papel em nome dos dois.

TRANSFERÊNCIAS

"Nós constituímos as empresas e elas estão à disposição. Eventualmente, se o cliente tiver alguma operação na qual ele venha a utilizá-las, as sociedades são transferidas. Quando é a pedido de determinado empresa, eles dão as informações necessárias", afirma.

Freire também afirmou que eles vendem "empresas inativas, que não operam" e que "só vai ter alguma coisa mediante o interesse de quem eventualmente for adquiri-las".

(JEC, AM, CM e CR)


Ex-diretores do PanAmericano não são localizados - Folha de São Paulo - 13 Nov 2010

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