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11 agosto 2010

JBS 2

O segundo texto sobre a JBS:

Faltou combinar com o mercado
Raquel Landim, David Friedlander - 9 Ago 2010 - O Estado de São Paulo

Com o mercado americano sem apetite, todas as opções para cumprir o contrato com o BNDES hoje são ruins para o JBS. Se insistir na oferta de ações nos EUA, vai receber um preço muito abaixo do que planejou. Outro caminho, a conversão do empréstimo do BNDES em ações no Brasil, elevaria a participação do banco estatal no JBS de 17% para perto de 30% - isso seria politicamente complicado para o BNDES, que já é criticado por seu apoio aos frigoríficos - e reduziria a participação da família Batista para menos de 50% em sua própria empresa.

A alternativa que sobrou, por enquanto, é pagar a multa. O mercado especula o que os banqueiros, os advogados e os donos do JBS podem estar planejando para escapar dessa despesa que não estava no roteiro. Na semana passada, circulou um rumor de que a empresa poderia partir para um mecanismo conhecido como “fusão reversa”: ao invés de a JBS USA absorver a Pilgrim’s, esta é que poderia incorporar seu comprador. Assim, não seria necessário abrir o capital da JBS nos Estados Unidos porque a Pilgrim’s já é listada em bolsa.

A companhia negou a especulação. Mesmo que seguisse por esse caminho, teria complicações. Como são donos de 64% da Pilgrim’s, os Batista precisariam convencer os aguerridos minoritários americanos a aceitar a operação. Com 36% da empresa, eles podem cobrar caro para trocar os papéis da Pilgrim’s pelos da nova companhia formada pela fusão entre as duas.
E, dependendo da maneira como o negócio fosse realizado, a participação do BNDES na filial americana poderia acabar diluída, ou seja, a fatia do banco estatal ficaria menor do que os 20% a 25% combinados na operação original - o que seria um golpe para o parceiro dos Batista.

“A questão das debêntures com o BNDES é hoje um dos principais riscos para quem compra papéis do JBS. O problema é que a empresa tem um tempo limitado para fazer a abertura de capital”, disse Gustavo Wigman, analista da Goldman Sachs. “Esse é o grande ponto de interrogação da empresa hoje”, concorda Pedro Herrera, analista do HSBC em Nova York.

Entusiasmo. A encrenca das debêntures aparece num momento em que o mercado finalmente começa a mostrar entusiasmo com o JBS. Nas últimas semanas, as agências de classificação de risco melhoraram as notas da empresa. Espera-se que, com o aparente arrefecimento do processo de aquisições em série, o JBS comece a se beneficiar das sinergias e do poder de mercado que seu tamanho pode proporcionar.

Dos oito analistas de bancos que acompanham o desempenho da JBS, sete recomendam a compra das ações da empresa no Brasil. O oitavo analista é neutro. O maior atrativo, dizem esses profissionais, é que o papel está barato. Vendida a R$ 8 quando estreou na bolsa, em 2007, a ação hoje é cotada a R$ 8,4 apesar de tudo que a empresa cresceu no período. “O papel não se valorizou porque a estratégia deles exige tempo para mostrar resultados. Agora é que a empresa deve começar a colher os frutos”, diz Gabriel Andrade Vaz de Lima, analista do Santander.

Apesar das dificuldades nos Estados Unidos, fora de lá o JBS já recorreu este ano duas vezes ao mercado com sucesso. Em abril, fez uma oferta de ações no Brasil e captou R$ 1,6 bilhão para desenvolver um sistema próprio de distribuição global dos seus produtos. Em junho, vendeu US$ 700 milhões em bônus na Europa para trocar dívidas de curto prazo por títulos de longo prazo.

Quando chegaram aos Estados Unidos, os irmãos Batista assustaram os concorrentes locais com seu estilo agressivo. Depois de cortar custos e sanear as finanças da Swift, primeira empresa comprada no país, partiram para o ataque. Aumentaram a produção, derrubaram os preços e ocuparam o espaço dos tradicionais frigoríficos americanos. A dúvida é quando essa agressividade vai virar lucro e encorajar os investidores americanos a se tornarem sócios dos irmãos Batista.

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