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03 agosto 2010

Futebol endividado

Dinheiro da china pode ser a salvação do futebol europeu
Jamil Chade / Genebra
O Estado de São Paulo - 3 ago 2010

Clubes endividados se voltam para os empresários e o mercado asiáticos

A China se apresenta como a esperança de solução para a crise financeira vivida pelo futebol europeu. O magnata chinês Kenny Huang negocia a compra do Liverpool, em um negócio que pode transformar a economia do futebol. Huang estaria em conversas com o Royal Bank of Scotland, o principal credor do time inglês.

Na Espanha, que vive a pior crise dos clubes em 50 anos, a federação modificará os horários das partidas da Liga para permitir que sejam transmitidas em horário nobre na China, além de criar um torneio anual com equipes espanholas na Ásia. Ontem, o Barcelona iniciou a pré-temporada no continente asiático.

Se a presença de magnatas russos e árabes no futebol chamou a atenção nos últimos dez anos, a chegada agora dos chineses promete ser ainda mais polêmica. O país não é conhecido por seu futebol e, nos últimos anos, esteve envolvido em diversos escândalos de corrupção no esporte.

Mas o magnata Huang não vem apenas com seu próprio dinheiro. O investimento seria feito com recursos do fundo estatal que o governo da China criou há poucos anos diante da acumulação de capital no país.

O fundo chinês estaria disposto a arcar com as dívidas de mais de 300 milhões (R$ 691.8 milhões), além de pagar um valor substancial aos proprietários. Mas os atuais donos, os empresários americanos Tom Hicks e George Gillett, resistem.

Huang representa a nova imagem dos magnatas chineses. Nada de comunismo ou citações de Mao Tse Tung. Nos anos 80, trabalhou na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Estudou na Universidade de Guangzhou, na Universidade Columbia , nos EUA, e Universidade de Nova Iorque.

Nos últimos anos, vem ajudando empresas chinesas a fechar acordos de patrocínio com grandes clubes americanos de basquete e beisebol. Foram suas empresas que salvaram o Houston Rockets de situação crítica. Há algum tempo comprou parte das ações dos Yankees e, no início do ano, arrebatou 15% das ações do Cleveland Cavaliers.

No futebol, a China não disfarça que quer a organização de uma Copa do Mundo, depois do sucesso da Olimpíada de 2008. Mas o avanço chinês no mundo dos esportes não ocorre por acaso. Na semana passada, Pequim anunciou que estava se tornando a segunda maior economia do mundo, superada apenas pelos EUA e ultrapassando o Japão.

Nova ordem. O futebol europeu já entendeu essa dinâmica. O Barcelona viajou nesta semana para iniciar uma turnê de pré-temporada na Ásia, com jogos amistosos, principalmente em cidades chinesas. Ontem, na Coreia do Sul, o time foi recebido por uma multidão. Na China, cobrará 1 milhão (R$ 2,3 milhões) por partida amistosa.

Os objetivos também são de médio prazo, com a venda de camisas, direitos de TV e de produtos com o nome dos clubes. De olho nesse mercado, a Liga de Futebol Profissional da Espanha anunciou a alteração nos horários das partidas do campeonato nacional.

Pelo menos 17 partidas da temporada 2010/2011 serão adiantadas para aumentar a exposição dos times espanhóis no mercado asiático. “Está claro que necessitamos o mercado asiático para competir com as ligas inglesa e da Itália em igualdade de condições’’, afirmou Florentino Peres, presidente do Real Madrid. “Estamos falando de um mercado potencial de 2 bilhões de torcedores e não podemos deixar isso de lado.’’

“Nosso objetivo é ser uma das principais ligas na Ásia’’, declarou Francisco Roca, presidente da Liga. Para ele, portanto, colocar partidas ao vivo em horário nobre na Ásia é fundamental, mesmo que obrigue jogadores a atuar no meio do dia nas altas temperaturas da Península Ibérica.

Um torneio anual será ainda realizado na Ásia, com três times espanhóis e um asiático, para promover a Liga. “Os times não gostam de mudar seus hábitos e tradições. Mas acredito que todos entendem que essa é uma grande oportunidade e não temos outra forma de fazer’’, explicou Roca. ‘Vivemos a pior crise financeira no futebol em 50 anos e temos de aproveitar o sucesso da Espanha na Copa de 2010 para tirar vantagens’’, disse.

Há uma semana, o Mallorca foi suspenso da Liga Europa por dívida além dos limites permitidos pela Uefa. Deve 77 milhões (R$ 177,5 milhões).

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