À venda, o lendário estúdio dos Beatles
O Globo - 16/2/2010
Fernando Duarte
LONDRES. Quando assumiu o controle da gravadora EMI, em 2007, o megainvestidor britânico Guy Hands prometeu uma política de austeridade, que mexeu com o ego de artistas consagrados e provocou uma debandada de talentos, como Paul McCartney. Talvez nem o ex-Beatle imaginasse que Hands chegaria ao ponto de se desfazer de uma relíquia, o Abbey Road. Só que, segundo o “Financial Times”, o lendário estúdio de gravação, no Norte de Londres, em que os Beatles revolucionaram a música pop, será posto à venda nos próximos dias. A negociação é para fazer caixa e permitir que Hands honre com os empréstimos feitos junto ao Citibank para adquirir a EMI.
O fundo de investimentos de Hands, Terra Firma, contraiu dívidas da ordem de US$5 bilhões na compra da EMI e o megainvestidor tem até julho para pagar uma das parcelas, de US$192 milhões. Num momento em que a indústria fonográfica vê as receitas com CDs despencarem e que o surgimento de novas técnicas de gravação baratearam os custos de produção — além de possibilitar uma simplificação do processo — Abbey Road transformou-se num elefante branco para a empresa.
São muitos os estúdios que têm fechado as portas em Londres nos últimos anos. Em 2009, saiu de cena o Olympic, estúdio onde foram gravados álbuns de Led Zeppelin, Rolling Stones e Jimi Hendrix. No resto do mundo também tem ocorrido o mesmo, como o Hit Factory, em Nova York, associado ao álbum de Stevie Wonder “Songs in the key of life”.
O destino do Abbey Road parece seguir a sina de outros estúdios que já fecharam a porta. Embora a Terra Firme pudesse explorar o passado glorioso da música, já que lá foram gravados álbuns memoráveis dos Beatles, como “Sargeant Pepper’s Lonely Hearts Club band”, além do clássico de Pink Floyd, “The Dark Side of the Moon”, há a tentação do valor imobiliário de um casarão num bairro chique de Londres. Segundo especialistas, o estúdio poderá render US$40 milhões.
Segundo a mídia britânica, o uso do Abbey Road como uma espécie de parque temático para os milhares de fãs dos Beatles que, anualmente, perambulam pelos arredores do estúdio, já foi estudado por Hands, mas parece não ter entusiasmado. Até porque uma das grandes atrações está do lado de fora — o cruzamento de pedestres em que o quarteto de Liverpool posou para as fotos da capa de seu último álbum, também batizado de Abbey Road.
Segundo uma reportagem da revista de música “Word’’, publicada este mês, a procura pelos serviços de Abbey Road caíram a um custo de US$400 por tempo de estúdio, um preço equivalente a um oitavo do que era cobrado em meados da década passada.
— Vivemos numa época em que, infelizmente, instrumentos importados da China e computadores poderosos fazem com que praticamente qualquer pessoa possa gravar álbuns inteiros num apartamento. Com a internet rápida, uma banda sequer precisa ter os músicos num mesmo recinto — explica Tom Whitwell, autor do blog Musicthing, sobre música e tecnologia.
Observe como o custo de produção da música fez perder o valor de Abbey Road.
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