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24 fevereiro 2010

Ilusão do Preço

A ilusão do preço

Por Luciana Monteiro, de São Paulo
Responda rápido: qual ação está mais barata - a de uma empresa negociada a R$ 0,10 ou a de uma outra, cotada a R$ 100,00? A resposta instintiva da maioria das pessoas é que é a de R$ 0,10. Mas, no mercado, o conceito de caro ou barato é bem diferente: papéis com preço alto podem estar mais baratos que os que custam alguns centavos.

É claro que a decisão de investimento não é tão simples assim e vai muito além puramente do preço do papel. Há, no entanto, um mito no mercado financeiro de que as ações negociadas por um valor menor possuem retorno superior ao das mais caras. Mas será que isso é verdade?

Papéis com preço menor causariam a ilusão no investidor de que eles estão baratos e, portanto, essas ações acabam sendo mais negociadas e se valorizam, defendem alguns estudiosos.

Muitos especialistas acham que isso não tem fundamento, mas os números mostram que não é bem assim. Levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (GV-CEF) revela que uma carteira com papéis de menor cotação tem retorno médio maior que uma formada com ações com tíquete mais elevado.

O estudo foi realizado pelos professores William Eid Júnior e Ricardo Rochman, juntamente com o mestrando em economia Dárcio Lazzarini. Foram montadas três carteiras: a baixa, composta por ações com preços inferiores a R$ 10,00; a média, com valores entre R$ 10,00 e R$ 20,00; e a alta, acima de R$ 20,00.

O desempenho dos portfólios foi analisado no período de 3 de janeiro de 2005 a 30 de junho de 2009. Sempre que a carteira completava seis meses, ela era revista. Dessa forma, todo dia 1º de janeiro e de julho, a carteira mudava de composição. O estudo levou em conta as ações mais líquidas da Bovespa no período, chegando a 41 empresas.

Após a montagem dos portfólios, os pesquisadores calcularam o retorno médio das carteiras, a variância (volatilidade) de cada carteira no período todo e em alguns intervalos. Além disso, os pesquisadores analisaram o Índice de Sharpe, um dos indicadores utilizados na mensuração do retorno em relação ao risco. Ou seja, o Sharpe mostra se a rentabilidade obtida está compatível com o nível de risco ao qual o investidor está exposto. Quanto maior o Sharpe, melhor.

Ao avaliar os retornos médios das três carteiras, os pesquisadores perceberam que a baixa teve o maior ganho no período, seguido pelo dos portfólios médio e alto. O desempenho da carteira baixa foi 197,85% maior que o da média. "Isso significa que montar uma carteira com ações baratas é uma boa estratégia se o investidor quer somente maximizar o retorno", afirma Eid, que é coordenador do GV CEF.

Coincidência ou não, dos 20 papéis negociados na BM&FBovespa que mais subiam nos 12 meses encerrados dia 18, 17 deles têm cotação abaixo de R$ 10,00. Nesse conjunto, entretanto, há muitas ações que estavam praticamente esquecidas até pouco tempo atrás, têm baixíssima liquidez e uma situação financeira para lá de complicada - casos de Agrenco e Laep, por exemplo.

Muitos desses papéis são usados por alguns investidos puramente para especulação. Portanto, nada de sair comprando qualquer papel no mercado somente porque o valor é baixo. No lugar de fortuna, o investidor pode é acabar com o mico na mão. Foi para evitar isso que o estudo da FGV levou em conta só as ações mais líquidas.

Um fator importantíssimo é a oscilação do papel. É preciso ver se os retornos maiores das ações com preço mais baixo não vieram acompanhados de uma volatilidade mais alta. "E isso não seria interessante para o investidor porque, para obter um retorno maior, ele estaria tomando risco demais no mercado de capitais", diz Eid.

Para a surpresa dos pesquisadores, a variância mais acentuada foi apresentada pela carteira média, e não pela baixa como era de se esperar. O portfólio médio apresentou um nível de volatilidade 2,6% maior que o da carteira baixa e 18,37% maior que o da alta.

Já a carteira composta por papéis com preços menores registrou volatilidade superior à da carteira alta. "Isso pode ser explicado pelo fato de as ações com valores menores que R$ 20,00 serem em grande parte 'small caps'", ressalta Eid, lembrando que as ações de menor liquidez normalmente apresentam picos de negociação. "Geralmente, esses picos ocorrem quando os controladores da empresa negociam ações entre eles mesmos." O objetivo é atualizar e elevar o valor de mercado da empresa.

Por fim, para saber se é financeiramente melhor para o investidor tomar um pouco mais de risco nas carteiras com ações com cotações menores em prol de um maior retorno, os estudiosos analisaram o Índice de Sharpe dos três portfólios. O resultado mostrou que o Sharpe da primeira carteira, a baixa, é o maior de todos, sendo 49,26% maior que o índice da segunda (com preços médios) e 190,78% maior que o da terceira (valores mais altos).

Segundo Eid, isso mostra que um investidor que montou sua carteira em janeiro de 2005, usando um critério de seleção de ações com preço inferior a R$ 10,00, recompondo-a todo começo de semestre, obteve um retorno maior, dado um determinado risco, do que aqueles que montaram suas carteiras com ações com tíquete maior.

Interessante notar que o retorno da carteira baixa foi superior ao das demais até o primeiro semestre de 2008. Depois disso, o desempenho ficou acima do da média, mas abaixo do registrado pelo portfólio composto por ações com preços mais altos. Quando se olha o segundo semestre de 2008, o retorno da carteira média continuou pior, seguido pela baixa e depois a alta. Já no primeiro semestre de 2009, o retorno da carteira média foi o maior de todos, seguido pela alta e, depois, pela baixa.

O fato pode ser explicado pela crise do "subprime" (hipotecas de alto risco), avalia o professor da FGV. "Durante uma crise, as empresas maiores, mais consolidadas e estruturadas, sofrem menos, e essas estão em grande parte nas carteiras com papéis mais caros", diz Eid. "O contrário acontece com a carteira baixa que conta com algumas 'small caps', que são mais sensíveis às crises financeiras", conclui.

Após a avaliação de todas essas variáveis, os pesquisadores concluíram que uma carteira de ações formada por papéis com tíquete mais baixo tem um retorno médio maior que uma composta por ações com cotações mais elevadas.

Contudo, em períodos de crise, as carteiras "mais caras" têm uma performance maior. "A melhor estratégia é manter uma carteira com papéis baratos até uma próxima crise e mudar de estratégia para uma carteira mais cara quando a crise chegar", diz Eid.

A questão é sempre como identificar essas mudanças no mercado. O risco é o investidor errar o pé, e vender um papel com potencial e comprar outro que será afetado pela crise, alerta um consultor. Prevalece, portanto, a análise além do preço.

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Empresa ganha ao reduzir valor de sua ação

De São Paulo
O desdobramento de ações tem sido utilizado por várias empresas para atrair os investidores. Ao deixar o preço do papel menor, mais aplicadores estarão aptos a comprá-lo. Isso aumenta a liquidez da ação, o número de acionistas e, consequentemente, o preço. Na avaliação de William Eid, coordenador do GV CEF, o trabalho que mostra a influência do preço da ação sobre o retorno e a volatilidade fortalece a tese de que vale a pena o desdobramento.

Um exemplo recente ocorreu com a OGX, empresa de petróleo de Eike Batista. Em dezembro, a companhia desdobrou seus papéis ordinários (ON, com voto) na proporção de um para 100. A mudança tinha como objetivo dar liquidez às ON, antes negociadas apenas em lotes. Isso aumentou o interesse dos pequenos investidores. Os papéis que valeriam R$ 1.691, por exemplo, passaram a ser negociadas a R$ 16,91, que é o caso do fechamento de ontem.

Logo após o desdobramento, as ON da OGX ingressaram no Índice Bovespa, o que deu ainda mais gás para as ações. Para se ter ideia do impacto do desdobramento e do ingresso no índice, neste mês, os papéis têm volume médio negociado de R$ 329 milhões. No mesmo período do ano passado, eram R$ 32 milhões. Ontem, a Gafisa, do setor de construção, anunciou o desdobramento de suas ações. (LM)

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