'Emprestei nome e recebi R$ 2 mil'
Bruno Tavares e Marcelo Godoy
23/11/2009 - O Estado de São Paulo
Além de ganhar a quantia mensalmente, aposentado ouviu promessa de que seria presenteado com casa
Foi no começo de 2006 que o aposentado Carlos Seiiti Nakajima, de 62 anos, recebeu a tentadora proposta: R$ 2 mil por mês e a chance de ganhar uma casa ou apartamento pelo empréstimo de seu nome para a abertura de uma empresa de representação comercial, a Carsena. O convite partiu de um homem que mal conhecia - só sabia se chamar João Pedro e seu apelido, Bigode. Sem que desconfiasse, Nakajima estava sendo envolvido em um esquema arquitetado pela J. Coan & Cia. Ltda, uma das maiores fornecedoras de refeições prontas do País.
Além de emprestar seu nome, Nakajima foi incumbido de recolher os encargos da empresa, tais como PIS, Cofins e Imposto de Renda, nas datas de vencimento. Colocou como sócia na empreitada Ana Maria Martins, uma amiga de baile. Segundo ele, a mulher nada sabe sobre o acordo firmado com Bigode. Em depoimento a promotores do Ministério Público Estadual (MPE), o aposentado disse desconhecer a razão social da Coan e o esquema de venda de refeições. “Doutores, na verdade eu assinei diversas procurações em branco”, afirmou. Algumas dessas procurações, segundo apuração do MPE, foram usadas para a abertura da conta bancária da Carsena.
Inicialmente, disse Nakajima, a empresa ficou registrada em Tietê, mesma cidade em que a Coan tem sede, no interior de São Paulo. Meses depois, a Carsena migrou, pelo menos no papel, para um endereço em Indaiatuba. Conforme registro na Junta Comercial de São Paulo, a empresa teria iniciado suas atividades em 2 de outubro de 2006, no número 106 da Rua Benedito de Campo, no Jardim Morada do Sul, loteamento residencial às margens da Rodovia SP-75.
Na semana passada, o Estado esteve no local. O galpão abriga, na verdade, uma igreja evangélica. “Os crentes estão aí há uns cinco anos ou mais”, afirmou o montador aposentado Valdomiro Soledade, de 47 anos, que há 22 reside na rua. “Antes da igreja, funcionava a mercearia do seu Sebastião. Nunca teve essa Carsena aqui, de jeito nenhum.”
Nakajima admite nunca ter ido ao endereço da Carsena em Indaiatuba. Só transferiu o registro da empresa no ano passado, por ordem de Bigode. Para justificar a existência da empresa, teve de alugar uma sala em Sorocaba. Indagado pelos promotores se tinha consciência de que fora usado como laranja, Nakajima não soube responder, pois desconhece o significado dessa expressão.
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