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16 novembro 2009

Caixa e Crise

Trauma da crise faz empresas engordar o caixa
Tom McGinty e Cari Tuna, The Wall Street Journal
4/11/2009 - The Wall Street Journal Americas

Escaldadas pela crise financeira, as empresas americanas começaram a manter mais dinheiro em caixa — e uma porcentagem maior dos ativos em dinheiro — do que em qualquer outro momento nos últimos 40 anos.

No segundo trimestre, as 500 maiores empresas não-financeiras dos Estados Unidos em ativos tinham US$ 994 bilhões em dinheiro e investimentos de curto prazo, ou 9,8% de seus ativos, segundo análise feita pelo Wall Street Journal com base em informes financeiros. Um ano atrás, esse número era US$ 856 bilhões, ou 7,9% dos ativos.

Essa tendência aparentemente continuou no terceiro trimestre, apesar da melhora na economia. Dessas 500 empresas, 248 já divulgaram os resultados do terceiro trimestre. O caixa delas aumentou para 11,1% dos ativos, ante 10,1% no segundo trimestre. Empresas tão diversas como Alcoa Inc., Google Inc, PepsiCo Inc. e Texas Instruments Inc. já divulgaram alta no caixa disponível no terceiro trimestre.

“Todo mundo está acumulando caixa”, diz Carsten Stendevad, que chefia o grupo de estratégia financeira do Citigroup Inc. Ele e outros consideram isso como uma ressaca da crise financeira de um ano atrás, quando as empresas não conseguiam levantar recursos ou tinham de pagar muito mais do que o habitual.

O saldo polpudo em caixa é tanto uma maldição para a economia quanto uma possível bênção. Tanta reserva indica que as empresas estão gastando e investindo menos, impedindo o crescimento da economia. Mas também as deixa com mais caixa para gastar quando a economia melhorar, facilitando aquisições, o reaquecimento das contratações e novas despesas de capital.

Caixas gordos “são ótimos para a macroeconomia”, diz Stendevad. “Muitas firmas estão agora numa posição (...) em que podem se reinventar e, no fim das contas, isso é que vai impulsionar o emprego.”

Numa reação à crise financeira do ano passado, os executivos aumentaram as reservas de emergência para garantir que haveria caixa para cobrir as operações do dia-a-dia. Cortes agressivos nos custos e o boom recente de emissão de títulos de dívida também ajudaram a rechear o caixa.

Muitas empresas ainda não têm planos para esses recursos, além de garantir uma certa segurança. “Eles teriam de me espancar na cabeça para tirar isso de minhas mãos”, diz Charles McLane, diretor financeiro da Alcoa.

A produtora de alumínio divulgou que detém US$ 1,1 bilhão em dinheiro e ativos líquidos em 30 de setembro, 28% a mais que há um ano. Com a queda da receita este ano, a Alcoa cortou dividendos, gastos e mais de 15.000 empregos para economizar. A Alcoa também divulgou lucro no terceiro trimestre, mas McLane continua cauteloso. “Seremos extremamente prudentes na administração dos recursos”, diz ele.

Algumas empresas já estudam investimentos ou aquisições. A fabricante de microchips Texas Instruments comprou duas empresas menores este ano, além de equipamentos de um concorrente falido. Ela divulgou caixa de US$ 2,8 bilhões em dinheiro e investimentos de curto prazo em 30 de setembro, 42% a mais que há um ano, apesar do declínio de 26% na receita dos nove meses encerrados em 30 de setembro em relação a um ano antes.
O diretor financeiro, Kevin March, diz que os executivos decidiram há um ano juntar dinheiro para aproveitar as oportunidades para comprar barato capacidade industrial, tecnologia e outros ativos. Agora, diz ele, a Texas Instruments pode “agir muito rapidamente” para fechar acordos e manter suas reservas num nível elevado.

A montanha de dinheiro economizada pelas empresas americanas acelerou uma tendência que já vinha tomando forma nos últimos vinte anos. No segundo trimestre de 1991, as 500 maiores empresas não-financeiras dos EUA tinham 3,9% dos ativos em dinheiro, segundo análise feita pelo WSJ nos informes financeiros compilados pela Capital IQ, filial da Standard & Poor’s. Esse total subiu continuamente até chegar a 9,2% em meados de 2004.

Rene Stulz, professor de finanças da escola de administração da Universidade Estadual de Ohio, diz que as empresas aumentaram o caixa porque a globalização e as mudanças tecnológicas as deixaram mais expostas aos riscos. “As firmas se tornaram mais arriscadas do que eram, então passaram a precisar de um colchão maior”, diz ele. Elas estão mantendo mais ativos em dinheiro do que em qualquer momento desde os anos 60, quando a automatização dos pagamentos reduziu a necessidade de manter dinheiro vivo para financiar as operações diárias, diz ele.

Kathleen Kahle, professora da escola de administração da Universidade da Geórgia, dá outro motivo: o crescimento das empresas de alta tecnologia, que tendem a manter reservas substanciais. Empresas novas e mais arriscadas têm mais dificuldade para levantar recursos quando o crédito está apertado, então mantêm mais liquidez, diz ela. “Ao mesmo tempo, elas tiveram várias oportunidades de crescimento e querem garantir que têm os recursos necessários para investir em bons projetos”, acrescenta.

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