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09 setembro 2009

Setor Bancário

Regras mais rígidas mudam setor bancário

Kevin Drawbaugh, Reuters, de Washington
A atividade bancária deveria ser uma coisa chata. É assim, meio de brincadeira, que lobistas e assessores do Congresso americano explicam o que o futuro aguarda para o setor bancário, enquanto os governos preparam uma regulamentação mais rígida. Dos padrões de adequação de capital mais rígidos e supervisão mais dura, aos lucros e bonificações menores, a atividade bancária mundial promete ser um negócio menos lucrativo nos próximos anos.

Isso não quer dizer que se trata de algo iminente. O processo de regulamentação bancária internacional se move muito lentamente. Mas alguns analistas do setor estão convencidos de que grandes mudanças estão a caminho. Isso também não significa que os investidores vão desprezar o setor. Pelo contrário: analistas vislumbram oportunidades nos bancos de médio porte inovadores, nos mercados em desenvolvimento e nos bancos que conseguirem criar produtos novos e instigantes.

Mas para os grandes bancos da velha escola - as megainstituições que foram salvas no ano passado por pacotes de resgate governamentais -, o futuro parece limitado, com margens apertadas, riscos de mudanças políticas e um persistente odor de ativos tóxicos. Gigantes como o Citigroup ou o Bank of America, por exemplo, poderão até mesmo responder com a cisão de unidades sob intensa exposição, segundo afirmam analistas.

Alguns acreditam que, na ponta mais baixa da categoria "grande demais para quebrar", os bancos irão encolher de propósito para despertar menos atenção e ganhar liberdade para operar. Um lobista da área de serviço financeiros afirma que "o DNA está mudando em algumas das firmas", na medida em que elas se ajustam a um mundo mais restritivo depois da crise financeira de 2008-09. O grupo global de contabilidade PricewaterhouseCoopers (PwC) afirma em relatório recente: "O setor bancário e os investidores precisam aceitar uma verdade incômoda - retornos patrimoniais menores passarão a ser a norma".

O centro de estudos Institutional Risk Analytics diz em um relatório recente: "No ano passado, as pessoas pareciam preocupadas principalmente com o banco em que tinham dinheiro. Agora elas começam a demonstrar interesse no reemprego de seu capital para recompensar os melhores bancos...em descobrir quais serão os sobreviventes mais saudáveis".

Os ministros das Finanças do G-20, o grupo das 20 nações mais industrializadas do mundo, concordaram no fim de semana que os bancos deveriam manter mais capital como um colchão de segurança contra grandes perdas. A declaração final dos ministros do G-20, que se reuniram em Londres, disse que os bancos "terão de manter um capital maior e melhor assim que a recuperação estiver assegurada". O secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, divulgou um plano de princípios básicos para as novas regras de capital dois dias antes da reunião do G-20. Mais detalhes são esperados até o fim do ano. A questão da capitalização também será um tópicos na reunião do G-20 nos dias 24 e 25 de setembro em Pittsbutgh, nos EUA.

Regras de capital mais rígidas - forçando os bancos a terem à mão e à disposição mais recursos para garantir os empréstimos que eles concedem - são esperadas por muitos analistas, para os quais elas poderão ser adotadas já em 2012. Isso poderá ser em grande parte conseguido pelas autoridades reguladoras através de acordos como os da Basileia, ou algo parecido com eles. O envolvimento mínimo de políticos seria necessário para reduzir as chances dos padrões mais elevados serem diluídos como vem acontecendo com outras reformas que estão sendo analisadas pelo Congresso americano.

"Exigências de capital maiores reduzem a lucratividade dos bancos. Isso seria especialmente pronunciado nos grandes bancos", afirma o analista político Jaret Seiberg da consultoria Concept Capital. "Acreditamos ser altamente provável que a maioria dos princípios mais importantes do Tesouro terão seu espaço nas novas regras de adequação de capital dos bancos, embora nenhuma medida seja iminente", diz Seiberg.

Além de um aperto nos lucros provocado pelas exigências de capital mais rígidas, os bancos - tanto os comerciais quanto os bancos de investimento de Wall Street que se transformaram em holdings bancárias - enfrentam outras ameaças depois da crise financeira de 2008-09. Alguns analistas preveem fraqueza crônica na demanda por crédito, embora um aumento do crescimento econômico vá proporcionar um alívio a isso.

Os ativos tóxicos serão um empecilho de longo prazo aos lucros. Mudanças contábeis vêm diminuindo seu impacto sobre os resultados, mas a maioria dos analistas é de opinião que o setor ainda não resolveu esse problema. Uma contração severa dos mercados de securitização de dívida vai impedir uma revitalização dos novos empréstimos, assim como o surgimento de limites à remoção de ativos do balanço, afirmam analistas.

Novas regras para os derivativos no mercado de balcão, se promulgadas, "vão impactar significativamente e reduzir o lucros supranormais obtidos por grandes negociadores no mercado de balcão, como o JPMorgan Chase e o Goldman Sachs", afirma a Institutional Risk Analytics. Os novos padrões de capital poderão incorporar características contracíclicas exigindo que os bancos provisionem mais recursos nas épocas de vacas gordas, limitando os ganhos e exigindo ajustes internos.

O valor das marcas e a lealdade dos clientes foram afetados pela crise, criando problemas de marketing para os bancos. A PwC diz que a imagem do setor foi tão arranhada que ele poderá, no futuro, ter problemas para recrutar talentos recém-formados nas faculdades. Os possíveis limites às bonificações poderão dificultar ainda mais o recrutamento.

Mas nem tudo é trevas. Analistas apontam para oportunidades em potencial para os banqueiros no período pós-crise. Por exemplo, a tomada de posição do governo sobre o mercado de balcão também poderá criar novos negócios de gerenciamento de riscos na medida em que parte dos chamado "sistema bancário paralelo" for desaparecendo. Os consumidores também parecem estar dispostos a poupar, o que está levando os bancos a fazer experiências com novos produtos que fornecem mais segurança que os planos de aposentadoria orientados para as ações, mas mais lucros que as tradicionais cadernetas de poupança, afirmam analistas.

Finalmente, os pequenos e saudáveis bancos regionais vão se beneficiar na medida em que o setor continuar encolhendo. Analistas afirmam que os fechamentos de bancos continuarão, reduzindo a competição em algumas áreas. "Nos próximos anos, veremos os maiores bancos e as holdings bancárias se dobrarem às forças do mercado e à necessidade de regulamentações mais rígidas", diz Ed Mierzwinski, diretor de programa de consumo da Public Interest Research Group dos EUA, organização de defesa dos direitos do consumidor. "Ainda teremos uma variedade de instituições regionais menores estimulando a inovação, mas duvido que veremos esses dinossauros crescendo cada vez mais", diz ele.

(Tradução de Mário Zamarian)


Valor Econõmico - 9/9/2009

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