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10 junho 2009

A importância da Imagem

Por que os políticos fazem plástica antes da eleição
Fernando Reinach*
O Estado de São Paulo - 2/4/2009

Avaliar membros da própria espécie é importante para os mamíferos sociais e eles a executam com eficiência. Acreditando nessa habilidade, o Homo sapiens organizou as democracias baseadas no voto universal. Mas há um problema. Nosso cérebro e o dos macacos que originaram a espécie humana foram selecionados durante milhões de anos para avaliar membros de nossa espécie com os quais interagíamos diretamente.

É dessa maneira que machos e fêmeas dominantes são escolhidos e os pareamentos sexuais, determinados. Selecionar um líder entre candidatos com os quais nunca interagimos é novidade para o cérebro humano e não é uma tarefa que ele, mesmo educado, faz com facilidade. Se puder escolher, nosso cérebro prefere utilizar poucas informações obtidas em interações diretas. Por isso os políticos andam pelas ruas cumprimentando o maior número possível de eleitores. Quando forçado a decidir com base em informações indiretas, os mecanismos utilizados pelo cérebro são primitivos e irracionais. A literatura científica está cheia de estudos que comprovam a tese, mas um estudo publicado recentemente demonstra quão primitivo é esse mecanismo.

Cientistas suíços selecionaram 57 pares de fotos de candidatos em eleições municipais francesas. Cada par continha uma foto do vencedor e uma do segundo colocado. Os pares foram mostrados para 684 adultos suíços que nunca haviam visto esses políticos. Sem informar quem eram e que eles haviam sido candidatos, os cientistas pediram que escolhessem o membro do par mais “competente” e “confiável”. Em 70% dos casos, o candidato avaliado como mais “competente” havia sido o eleito. Se adultos sem nenhuma informação além de uma foto fazem a mesma escolha que os eleitores, isso sugere que os mecanismos utilizados para fazer a escolha são primitivos, talvez semelhantes aos utilizados pelas crianças. Para confirmar a hipótese, os mesmos pares de fotos foram mostrados para 681 crianças com idades entre 5 e 13 anos. As fotos foram mostradas no contexto de um jogo de computador onde as crianças deveriam escolher o melhor capitão para um barco que os levaria em uma viajem perigosa. Os resultados com as crianças foram os mesmos: elas escolheram o vencedor nas eleições em 71% dos casos. Isso sugere que eleitores escolhem seus líderes utilizando os mesmos mecanismos que o cérebro de uma criança usa para julgar as faces de pessoas.

O experimento é semelhante à maneira como os eleitores brasileiros são apresentados a candidatos ao legislativo. Uma foto e uma frase. Mas o mais interessante é que este experimento demonstra de forma científica um fato que é bastante conhecido dos políticos: a imagem da face, como aparece nas propagandas, é a fonte principal de informação utilizada por nosso cérebro em condições nas quais ele é obrigado a fazer escolhas sem os dados da interação direta. Não é de espantar que grande parte dos políticos se submeta a operações plásticas para se tornarem mais “competentes”.

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