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26 maio 2009

Derivativo - Contabilização

Derivativo exótico tem novo registro
Valor Econômico - 26/5/2009

Depois do susto com o câmbio no final do ano passado, os bancos e empresas brasileiras têm agora de ser mais explícitos ao registrar suas transações de derivativos, informa Jorge Sant'Anna, superintendente da Cetip. "As operações mais alavancadas, como por exemplo o 'target forward', não eram claramente registradas", diz o executivo.

Segundo ele, havia notas explicativas detalhando a transação. Mas o valor total da exposição ao risco, o chamado nocional ou valor de face do derivativo, não ficava explícito no sistema da Cetip. "O detalhamento não era imediato", afirma. A não ser que os técnicos fossem se debruçar a analisar cada um dos contratos 50 mil contratos registrados, não era possível perceber que aquele contrato aparentemente simples de dólar futuro de US$ 100 milhões embutia opções e significava uma exposição de US$ 2,4 bilhões a ainda por cima com uma alavancagem de dois para um.

"Criamos uma comissão com a Febraban (a entidade dos bancos) e tentamos tirar algumas lições com a crise", diz ele. Uma delas foi que era preciso melhorar a forma do registro desses produtos que ele classificou de "exóticos". Agora, esse detalhamento é obrigatório e a Cetip pode não aprovar a transação, se considerar de muito risco ou avaliar que o ativo subjacente do derivativo não tem valor de mercado.

De posse da informação da exposição total do mercado de forma sistêmica, não mais descritiva, a Cetip pretende passar a fornecer dados para que os participantes possam marcar a mercado os preços dos contratos e fazer uma gestão ativa de garantias. Os reguladores também vão poder saber, naquele dia, qual o ajuste que os participantes teriam que pagar se os contratos fossem liquidados.

Segundo Sant'Anna, no mercado internacional o BIS (Banco para Compensações Internacionais) calcula periodicamente de forma estimada o valor do ajuste necessário dos derivativos. Enquanto o valor de face dos contratos no mercado de balcão caiu dos US$ 683 trilhões em junho de 2008 para US$ 591,9 trilhões no final do ano, o ajuste necessário para liquidar esses contratos chegou ao recorde histórico de US$ 33,88 trilhões, na comparação com os US$ 20,3 trilhões em junho. Os depósitos de garantias passaram de US$ 3,8 trilhões para US$ 5 trilhões no mesmo período. No Brasil, lembra Sant'Anna, será possível saber os números exatos diariamente e não apenar fazer estimativas provavelmente subestimadas.

O executivo diz que as novas regras para o mercado de derivativos propostas pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, no dia 13, são semelhantes ao modelo adotado há tempos no Brasil. "A ideia é que as empresas, os bancos e os fundos tenham de registrar todo o contrato fechado entre duas partes, o que já acontece no mercado brasileiro", afirma Sant'Anna.

Até agora, o chamado mercado de balcão é uma incógnita para os reguladores americanos e no mundo todo. Somente por meio dos balanços de bancos, empresas ou relatório dos fundos de hedge é possível estimar o que acontece. No Brasil, esses contratos têm de ser registrados ou na Cetip ou na BM&FBovespa. Dessa forma, é possível saber exatamente que o estoque desses derivativos de balcão é de R$ 419,6 bilhões na Cetip e de R$ 15,2 bilhões na BM&FBovespa.

No Brasil, a ampla maioria dos negócios acontece no ambiente da bolsa de futuros, com estoque de R$ 1,97 trilhão. No mercado externo, há estoque de US$ 591,9 trilhões no balcão e de US$ 57,8 trilhões em bolsa. "Os reguladores estão pressionando para que mais produtos sejam negociados em bolsa, com contraparte central, o que também já acontece no Brasil." Ele lembra que a ideia de acabar com mercado de balcão nos Estados Unidos não vingou. "O debate sobre o que acontece com os americanos é fundamental, pois vai determinar o futuro para a indústria no mundo todo", considera ele.

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