(...) No Rio de Janeiro, década de 1950, certo tenente da Aeronáutica, Felipe de tal, comprava carros a prazo e imediatamente os revendia à vista. Por menos. Na contabilidade de cada transação tinha prejuízo. Mas saía dela com dinheiro no bolso, enquanto deixava, no do otário, um maço de promissórias, as felipetas. (O trocadilho combina "Felipe" com "petas", que, na gíria da época, significava "mentira".) A princípio, aplicava parte do dinheiro apurado para resgatar felipetas no vencimento. Ampliava assim o eixo de crédito, em torno do qual fazia girar uma espiral de valores ascendentes.
O tenente pode ter aprendido o truque com Carlo Ponzi, vigarista italiano que, na década de 1920, fez efêmera fortuna com esse golpe nos EUA. Ponzi passou 13 anos na cadeia e, da Itália para onde o deportaram, veio passar seus últimos anos no Rio; morreu ali, como indigente, em 1949.
Nos esquemas Ponzi e Felipeta, o golpista honra vencimentos e resgates -e embolsa seu ganho- enquanto número crescente de investidores continuar afluindo ao "empreendimento". Pela impossibilidade matemática de essa condição persistir indefinidamente, cedo ou tarde a bolha estoura.
A desmemória coletiva favorece a recorrência episódica do golpe. Quem se lembra de que há apenas dez anos a construtora de pirâmides Encol o aplicou a 42 mil sofisticados otários? Com outros nomes, o esquema Ponzi se repete, se repete, se repete.
Nada aqui, nada aqui - zás!
Folha de São Paulo - 2/4/2009
ALDO PEREIRA
02 abril 2009
Ponzi e Filipetas
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