QUEM SE OCUPA das idas e vindas da Bolsa no curtíssimo prazo já se pergunta até onde vai o atual estirão do Ibovespa. Por curtíssimo prazo entenda-se o período que vai até maio. Não há meios de prever o que será da Bolsa nem no "longo prazo" (no Brasil, um ano), que dirá daqui a dois meses. Mas, até maio, estão agendadas notícias que podem balançar o coreto.
Começou a temporada americana de balanços. Balanços merecem cada vez menos crédito, mas isso não vem muito ao caso. Desde março, bancos dos EUA dizem que tiveram um "grande" primeiro bimestre. As Bolsas dos EUA subiram, o que se refletiu aqui e deu mais impulso à alta motivada pela volta dos estrangeiros à Bovespa. Analistas de bancos por ora certeiros e famosos nos EUA, como Meredith Whitney e Mike Mayo, deram de ombros, dizendo que o otimismo banqueiro é cascata.
Mas o mercado deu de ombros para os analistas e seguiu comprando. Nem se importa com o fato de que a estimativa de resultados bancários seja agora ainda mais incerta, pois o conselho que regula a contabilidade nos EUA [FASB] relaxou normas de avaliação de ativos e registro de perdas.
GE, Johnson & Johnson e Nokia também divulgam balanços, além de perspectivas para o ano. Essas empresas são termômetros da economia real. Caso pintem um cenário ruim, isso em tese deveria derrubar os bancos (que correriam mais risco de perdas com calotes de empresas e consumidores). Enfim, sejam "bons" os balanços de bancos, maquiados ou não, quem comprou no boato venderá no "fato", derrubando a Bolsa? Por quanto tempo?
Além de balanços, virá o resultado dos "testes de estresse" de 19 bancões dos EUA. Trata-se de uma espécie de auditoria conduzida pelas autoridades americanas a fim de verificar se essas instituições precisam de mais capital. Se ignora qual tipo de informação o governo divulgará, mas entre abril e maio vai se saber algo sobre a necessidade de capital.
Os tais "testes" foram espinafrados, mas são ansiosamente esperados. Nouriel Roubini e Paul Krugman lembram, com mais ou menos ênfase, que as previsões de PIB, desemprego e preço de imóveis que baseiam tais testes são otimistas demais, quando não já desatualizados pela realidade. Portanto, os resultados do "teste" seriam maquiados.
Uns críticos dizem que o governo não pode revelar muitos dados do "teste", pois isso poderia arrebentar bancos. Outros, que a falta de transparência pode causar medos. Logo, ninguém sabe de nada do impacto dos "testes de estresse" sobre as ações. Mas trata-se de um bom motivo para detonar "volatilidades", ainda mais após semanas de alta.
Para piorar a confusão, a Bovespa tem suas particularidades. Mais e mais aparecem relatórios dizendo que commodities e cia. (Petrobras, Vale etc.) e "emergentes" como o Brasil podem ter um desempenho superior ao da média mundial. Boatos sobre a "recuperação" ou "crise" da China (grande consumidora de commodities) levantam e derrubam Bolsas e os papéis das duas maiores empresas brasileiras.
Mas não seria descabido esperar dias agitados e de "realização de lucros" (venda de ações para embolsar ganhos). Até maio, pode vir um período de recesso na alta da Bolsa.
A Bovespa e os bancos americanos
Folha de São Paulo - 14/4/2009 - VINICIUS TORRES FREIRE
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