Safra de balanços pode esfriar entusiasmo nas bolsas
David Gaffen, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 6/4/2009 - 1
A temporada de balanços está começando e vai ser deprimente. Apesar disso, o mercado acionário dos Estados Unidos — que de uma maneira ou outra acaba ditando o ritmo das bolsas ao redor do mundo — está entrando nessa nova fase no vácuo da disparada de quatro semanas mais agressiva em mais de 70 anos.
Dessa forma, mesmo que praticamente todos os investidores reconheçam que as coisas estão realmente feias, ainda assim eles estão criando bases para uma decepção. E se os últimos oito anos servirem como alguma orientação, é isso que provavelmente acontecerá.
A empresa de pesquisa de investimento Bespoke Investment Group LLC examinou todas temporadas de balanço desde meados de 2001 e concluiu que se os investidores aplicassem dinheiro no índice Standard & Poor's 500 no primeiro dia da temporada de balanços e vendessem as ações no último dia perderiam quase 27%. Os que fizessem o oposto conseguiriam um retorno de 7,1%.
Os números parecem especialmente pertinentes neste trimestre, levando-se em consideração que a recente alta do mercado foi furiosa. A Média Industrial Dow Jones subiu 21% nas últimas quatro semanas, o mais rápido ganho de 20% do índice desde 1938. O S&P 500 acumula alta de 23%.
As duas últimas temporadas de balanço, que aconteceram durante extremo nervosismo do mercado, mostraram, respectivamente, quedas de 8,5% e 9,3% no S&P 500, como mostra a pesquisa da Bespoke. A temporada de balanços do primeiro trimestre começa com a divulgação dos resultados da Alcoa amanhã e será encerrada a 14 de maio, quando a rede Wal-Mart Stores apresenta seus números.
Os analistas esperam um declínio de 37% nos lucros em comparação com o mesmo período do ano passado. A expectativa é de que todos os dez grupos do S&P 500 apresentem queda anual, um corte uniforme que nunca havia acontecido durante os dez anos de acompanhamento desses dados pela Thomson Financial.
O que pode manter a alta das bolsas não é tanto se os resultados do primeiro trimestre atingirão ou superarão essas expectativas. Os ganhos dependerão mais do que os executivos disserem sobre o segundo, terceiro e quarto trimestres.
"A esperança de todo mundo, no momento, é a compilação de dados menos ruins", diz Linda Duessel, estrategista de renda variável da Federated Investors. "Queremos ouvir que caímos no abismo e que a queda provavelmente chegou ao fim."
O que as empresas informarem deve determinar se as bolsas americanas podem sair do declínio de 18 meses — a Média Dow Jones ainda está 43% abaixo do pico de outubro de 2007 — e transformar a fase recente de quedas num período de altas consistentes. Na sexta- feira, a Dow fechou a 8.017,59 pontos e o S&P 500 a 842,50 pontos.
Os investidores foram brindados com algumas fagulhas de esperança no começo de março, como as declarações dos diretores-presidentes do Citigroup, Vikram Pandit, e do Bank of America, Kenneth Lewis, de que os dois bancos tiveram lucro em janeiro e fevereiro. Esses comentários foram alguns dos catalisadores do retorno dos investidores às bolsas, especialmente às ações de bancos, que têm tido um desempenho melhor do que a média do mercado desde que este bateu em seu nível mais baixo da crise, a 9 de março.
O entusiasmo dos dois executivos foi diluído há poucos dias, quando Lewis e Jamie Dimon, diretor-presidente do J. P. Morgan Chase, declararam que março foi um mês difícil. A confiança dos investidores no setor bancário aumentou, mas eles já se decepcionaram no passado e, por isso, qualquer sinal de que os bancos ainda enfrentam dificuldades colocará à prova a fé deles.
Os relatórios sobre produção industrial, habitação, setor imobiliário e atividade das fábricas sugerem que, pelo menos, a economia se estabilizou. Se empresas de outros setores indicarem a retomada da atividade com sinais de melhora no número de pedidos ou nas entregas, isso vai aumentar o otimismo recente.
"A questão é: as empresas vão fazer comentários sobre expectativas que sejam significartivamente muito diferentes do que é esperado? E o que vamos ouvir sobre as atividades dos negócios em abril?", diz Jim McDonald, diretor de estratégias de investimento da Northern Trust.
Os primeiros sinais são contraditórios. Os números da habitação melhoraram, mas as empresas de construção civil Lennar e KB Home informaram perdas contínuas, e a última informou que não previa nenhuma melhora significativa nas condições do mercado pelo resto do ano.
Os investidores estarão especialmente atentos aos resultados de empresas que servem como referência da demanda global. Como a Caterpillar, que surpreendeu o mercado em janeiro com o anúncio de 20.000 demissões e ofertas de demissões voluntárias para outros 25.000 empregados nos EUA. Em março, a gigante industrial anunciou planos de demitir mais 2.500 pessoas.
Notícias desse tipo durante a temporada de balanços podem esfriar o entusiasmo dos investidores.
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