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09 março 2009

Mercado acionário e economia

Antiga bola de cristal, bolsa vira termômetro do medo
Justin Lahart, The Wall Street Journal
3/3/2009 - The Wall Street Journal Americas - 1

Durante os anos 90, o mercado de capitais dos Estados Unidos ganhou a reputação de bola de cristal. Como representação da sabedoria de milhões de investidores, sua capacidade de prever o rumo da economia parecia superar todas as demais previsões.

Depois da bolha da Internet, época em que a ação da agência de viagens online Priceline.com subiu tanto que passou a valer mais que a soma de todas as grandes empresas aéreas americanas, o mercado deixou de ser visto como um oráculo. E, nos últimos tempos, as altas e baixas desenfreadas revelam confusão, e não mensagem. Nos anos 90, a Média Industrial Dow Jones subiu ou caiu 2% em 91 dias. Só no ano passado, houve mais de 80 oscilações como essas.

Mas, em meio ao pior declínio econômico em pelo menos uma geração, uma recuperação das bolsas — por mais que essa possibilidade pareça afastada depois da forte queda de ontem — pode ser um sinal especialmente bom.

As bolsas são mais do que simplesmente uma medida da expectativa do investidor; elas são uma medida de confiança. Numa época em que a maior parte dos males da economia reside na crise de confiança, em que tanto os consumidores quanto os empresários estão tão inseguros quanto ao futuro que cortam despesas até o osso, a alta das ações seria um importante sinal de que a maré virou. Mais que isso, bolsas em alta podem ser, por si só, um importante estimulante da confiança.

O pensamento reinante de que as ações são o principal indicador do rumo da economia americana baseia-se na idéia de que os investidores monitoram incansavelmente a lucratividade das empresas. "Da mesma forma que a lucratividade de uma empresa revela alguma coisa sobre a economia, o mercado de ações pode ser um sinal", disse o economista Frederic Mishkin, da Columbia Business School.

Em quase todos os 11 declínios econômicos dos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial, a Média Industrial Dow Jones atingiu seu ponto mais baixo da recessão e começou a subida seis meses antes do início da recuperação da economia.(A grande exceção foi a recessão de 2001, quando o mercado de ações só atingiu o fundo do poço quase um ano depois do começo da recuperação). Geralmente, os investidores ficam ansiosos para comprar papéis antes da recuperação econômica porque, quando eles sobem depois de uma recessão, os ganhos são consideráveis.

Agora, claro, muitos investidores estão simplesmente ansiosos. O valor atual das ações já não reflete a lucratividade de longo prazo, disse o presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Ben Bernanke, em depoimento na Comissão de Finanças da Câmara, mas apenas "as atitudes do investidor sobre risco e incerteza, que estão agora em níveis muito altos".

Grande parte da insegurança do investidor se deve ao desconhecimento quanto ao destino dos bancos. Os investidores ainda não sabem exatamente que bancos vão quebrar, ser incorporados pelo governo ou transferidos para os credores, e qualquer dessas opções vai prejudicar os acionistas. Como resultado, as ações dos bancos já não refletem tanto as expectativas de lucros futuros, mas sim as apostas de que este ou aquele irá sobreviver. Isso fez com que as ações flutuassem amplamente. E, como as empresas financeiras estão na base da crise de crédito, quando elas entram em turbulência o resto do mercado reage.

Mesmo para famílias americanas que não têm nenhuma exposição às bolsas — cerca de metade delas —, o mercado de ações é importante. Um estudo feito em 1999 pela economista do Fed Maria Ward Otoo mostra que mudanças nos preços da ações afetaram a confiança das famílias consultadas na pesquisa do índice de confiança do consumidor feita da Universidade de Michigan, independentemente do fato de terem investimentos ou não. Ela concluiu que os consumidores usam o mercado de ações como um indicador de tendência de seus salários.

O mercado de ações também influencia o comportamento das empresas. Em discurso no mês passado, o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, explicou como chegou à conclusão, no final da década de 50, de que mudanças na cotação das ações levaram a mudanças nas compras de equipamentos pelas empresas. Ele atualizou a análise há pouco tempo e concluiu que a correlação entre ações e gastos das empresas com equipamentos continua a existir.

"Uma recuperação do mercado de ações liderada pelo fim do medo pode muito bem ser o momento de virada da atual crise", disse ele. "A questão, claro, é saber quando."

Em agosto de 1982, durante o que até agora parece ter sido o declínio mais profundo desde a Grande Depressão, o "quando" a que Greenspan se referiu aconteceu no momento em que o Fed cortou a taxa básica de juros, sinalizando que sua luta contra a inflação estava encerrada. As ações dispararam e continuaram em alta, apesar do acúmulo de más notícias sobre a economia e das reclamações dos analistas de mercado de que os avanços não tinham sentido. Em novembro daquele ano, a recessão acabou.

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