Escândalo expõe ‘sofisticação’ dos investidores
Jason Zweig
15 December 2008
The Wall Street Journal Americas
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O que o comediante George Carlin, que morreu em junho, e o administrador de fundo de hedge Bernard Madoff, que foi preso na semana passada sob a alegação de organizar um gigantesco esquema de pirâmide que teria perdido dezenas de bilhões de dólares, têm em comum?
O comediante imortalizou a figura de linguagem conhecida como oximoro, as absurdas parcerias de palavras como “camarão jumbo” e “inteligência militar”. Madoff apenas colocou o mais tolo dos oximoros financeiros sob os holofotes: “investidor sofisticado”.
As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment Securities registraram ganhos de cerca de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio, por 20 anos, sem uma única perda. Por que esse absurdamente estável retorno não detonou nenhum alarme entre os atuais e os potenciais investidores?
Afinal, investidores sofisticados como os clientes de Madoff deveriam saber que, quando alguma coisa é boa demais para ser verdade, provavelmente não é verdadeira. Mas eles acreditaram nela, de qualquer forma. Por quê?
Madoff enfatizava um clima de segredo, dando às suas contas de investimentos um misterioso ar de sedução e um senso de exclusividade. O marketing inicial estava, na maioria das vezes, nas mãos do “macher” (que em hebraico denomina um “figurão”). Nos clubes de campo ou em outros pontos de reunião exclusivos, o macher contava vantagem em voz alta: “Tenho meu dinheiro investido com Madoff e ele está indo muito bem”. Quando o interlocutor manifestava interesse, o graúdo respondia: “Você não pode participar, a não ser que seja convidado (...) mas eu acho que posso apresentá-lo”.
Robert Cialdini, um professor de psicologia da Universidade Estadual do Arizona e autor do livro “Influência: Ciência e Prática”, chama essa estratégia de “combinação de tripla ameaça”. O caráter meio secreto dos fundos de hedge, diz, faz com que os investidores sintam que se trata de “um domínio inerente a pessoas que sabem mais do que nós”. Essa incerteza nos leva a buscar uma prova social: a evidência de que outras pessoas em que confiamos já tomaram a decisão de investir. E, ao usar essa mesma estratégia de exclusividade, Madoff fez os investidores trocar o medo do risco do investimento pelo medo de perder ao não fazer o investimento.
Se você consegue ser convidado, passa então à condição de membro desse clube exclusivo de “investidores sofisticados”. Quando alguém que você respeita fez algum movimento para fazê-lo ganhar acesso, diz o professor Cialdini, pode parecer um “insulto” procurar saber mais sobre o negócio. Madoff também tornou-se conhecido por expulsar de seus fundos investidores que perguntavam demais, evitando que alguém pudesse virar o barco.
Esse senso de filiação a um clube fechado fez com que vários compradores dos fundos de Madoff se tornassem cegos aos numerosos sinais de perigo que flutuavam ao redor de suas operações. Quando você está num grupo exclusivo como esse, não sai fuçando na cozinha para ter certeza de que o código sanitário está sendo obedecido.
Eis o grande segredo do “investidor sofisticado”: é comum ele não fazer a vistoria das contas antes de investir. Durante um breve período em 2006, a SEC, Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, exigiu que os fundos de hedge fornecessem informações padronizadas sobre suas operações. William Goetzmann, um professor de finanças da faculdade de administração de Yale, descobriu que os fundos de hedge que informavam problemas legais, de regulação ou conflitos de interesse acabavam com desempenho futuro pior. Mas o fornecimento de informações desses riscos não tinha impacto nenhum no fluxo de dinheiro para os fundos de hedge. Em outras palavras, os investidores estavam obtendo informação útil e não dando atenção a ela.
O fundo de hedge de commodities Amaranth Advisors LLC, que entrou em colapso em 2006, com perdas de US$ 6 bilhões, sequer preencheu o formulário obrigatório da SEC no início daquele ano, num sinal claro de que alguma coisa estava errada. Em vez de verificar a causa da omissão ou sacar os recursos, os investidores colocaram ainda mais dinheiro no fundo.
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23 dezembro 2008
Finanças comportamentais
O texto a seguir utiliza conceitos interessantes para um pesquisador da área de finanças comportamentais. Apesar da “aversão a perda” não ter sido claramente mencionado no texto, o “medo de não fazer o investimento” poderia ser considerado um fenômeno aproximado.
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