Seleção joga para político ver
João Domingos
O Estado de São Paulo – 13/11/2008
Dos 19.358 ingressos para o amistoso entre as seleções de Brasil e Portugal, dia 19, na cidade-satélite do Gama, 7.360, mais de um terço, serão doados a autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Outros 2 mil serão sorteados entre os moradores do Gama, município com cerca de 100 mil habitantes a 40 quilômetros de Brasília, enquanto 500 serão entregues aos operários que remodelaram totalmente o Estádio Bezerrão, a ser reinaugurado com o jogo festivo.
Sobraram, então, 9.498 ingressos. Estes serão postos à venda, mas por um preço muito alto. As arquibancadas laterais custarão R$ 250; os lugares atrás dos gols, R$ 180. Serão vendidos também 200 bancos para pessoas com deficiência física, ao valor de R$ 200 cada. “Não consideramos que o jogo será para a elite porque nos baseamos no valor do ingresso de Brasil e Argentina (jogo das Eliminatórias para a Copa da África do Sul realizado em junho no Mineirão) e não achamos que tenha sido um jogo elitista”, disse Fábio Simão, presidente da Federação Brasiliense de Futebol.
O governo de Brasília pagará às duas seleções R$ 9 milhões pela apresentação - cada uma embolsará metade do valor. As delegações chegam a Brasília na segunda-feira. A seleção brasileira ficará no Alvorada Park Hotel, ao lado do Palácio da Alvorada, onde mora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a de Portugal, no Kubitschek Plaza, no centro. Os dois hotéis pertencem ao vice-governador de Brasília, Paulo Octávio (DEM).
Além do ingresso caro, o que chama a atenção no jogo que vai reinaugurar o Bezerrão - o mais moderno estádio do Brasil cumpre todas as novas regras da Fifa, tais como a distância de sete metros do alambrado para a faixa lateral do campo, tem todas as cadeiras numeradas e amplo estacionamento - é o grande número de entradas destinadas às autoridades, exatamente 7.360. A Federação Brasiliense de Futebol repassou parte dos ingressos ao governo do Distrito Federal.
Numa entrevista à Rádio CBN, na terça-feira, o secretário de Esportes de Brasília, Pastor Agnaldo de Jesus, disse que o governo do Distrito Federal tiraria muito mais proveito político doando ingressos para gente importante e autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo, do que vendendo-os aos torcedores. “Quem você acha que vai se lembrar do governador, a autoridade ou o torcedor?”, perguntou Jesus.
Como a repercussão de sua entrevista foi muito ruim no governo, Agnaldo de Jesus dizia-se revoltado. Resolveu comparar a reinauguração do Bezerrão com a de um jornal ou de uma rádio. “Se você for inaugurar uma rádio, um jornal, vai convidar quem? Os ouvintes, os leitores? Não. Você vai convidar as autoridades”, insistiu ele.
O presidente Lula foi convidado pelo governador de Brasília, José Roberto Arruda (DEM), a ir ao novo estádio. O amistoso está marcado para as 22 horas.
Vejamos: 10 mil ingressos a R$200 cada (para simplificar) significam R$2 milhões arrecadados na bilheteria. O valor pago a cada seleção mais despesa de hospedagem, transporte, segurança e outros deve fazer com que os gastos ultrapassem a R$12 milhões. Ou seja, R$10 milhões do contribuinte para inaugurar um estádio de futebol. É justo?
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